sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sede de Sangue


Cara, como eu odeio Anne Rice. Graças a ela que começou um movimento que fez os vampiros, anteriormente empaladores de pessoas, sedutores assasinos, seres que caçam e matam pessoas pra ter mais um dia de vida sequer, em um bando de viados chorões. E pior, graças a isso, veio algo muito pior chamado Crepúsculo (a propaganda de Lua Nova antes de ter começado o filme gerou risos involuntários de quase todos, incluindo-me) que pegou o que já estava fedendo, mas estava guardado em um canto, e jogou no ventilador e espalhou a merda pelo mundo, mesmo que o Kevin Smith ache isso de certa forma positivo. Poucos exemplares da era Crepúsculo fazem jus aos vampiros, como 30 dias de noite, Pinóquio Vampire Slayer, e Sede de Sangue. Porque esse ultimo está incluído nesta lista? Em resumo, ele é gore, engraçado, tem uma ótima historia, e o mais importante, consegue ser romântico sem ser piegas ou afrescalhado demais. Não se encaixa no gênero terror, é mais um drama romântico estilizado.

A historia começa nos mostrando o padre Sang-hyeon (Kang-ho Song), de uma pequena cidade. Um cara muito altruísta, que se sente incapacitado de ajudar as pessoas de fato como homem de deus. Então ele vira voluntário num experimento pra tentar achar a cura do vírus FV, também conhecido como a doença das viúvas, pois ela só afeta homens, e sem chance nenhuma de sobrevivência. O que eu achei legal aqui é que a pesquisa é feita pela própria igreja, uma fração mais liberal digamos, mesmo que o Vaticano não aprove muito a idéia da ciência e Deus juntos. Como todos os outros, ele acaba morrendo, mas na mesa de cirurgia, durante a transfusão, entra sangue de vampiros nas veias dele, acontecendo uma recuperação milagrosa, tornando-o assim uma espécie de mártir entre os católicos. O problema começa que, ele precisa de sangue pra se manter saudável, então a sua opção é pegar de um cara que está em coma (numa espécie de canudinho). Alem do fato que agora ele precisa de sangue pra viver, tambem ganhou poderes e fraquezas de um vampiro, como super-audição, superforça, olfato superdesenvolvido, capaz de pular bem mais alto que qualquer um, queimar na luz do sol, até farejar espíritos do mal.

Da fama de milagreiro, ele se reencontra com velhos conhecidos da infância, como a vendedora de roupas Lady Ra (Hae-sook Kim), seu filho doente Kang-woo (Ha-kyun Shin), o casal Evelyn (Mercedes Cabral) e Yeong-doo (Dal-su Oh) e o policial Seung-dae (Young-chang Song). Mas quem chama mais atenção do padre é Tae-joo (Ok-vin Kim, chutando bundas nesse filme), a explorada da casa, que começa a flertar e ser correspondia por Sang. A partir da primeira (tentativa de) transa, até a consumação de fato (o pôster censurado faz sentido, já que é uma das coisas mais feitas entre eles no filme) e a descoberta de ele ser vampiro, um plano de matar Kang Woo é colocado em pratica, e no processo, Sang vai perdendo cada vez mais sua humanidade e sua fé enquanto a Te-Joo cada vez mais abraça o seu lado sanguinário como vampira.

O filme tem certos toques de mangá em suas cenas, principalmente seu foco nas expressões nos olhos, que ajuda a principalmente a caminhar com a trama em uma das cenas finais, alem de em certas cenas apelar pra comédia, mas sem cair pro ridículo. Todas as piadas no filme tem um certo contexto para estarem lá. Interessante também que tem entre o pessoal da Lady Ra, há um certo vampirismo no sentido que Tae-Joo é explorada ao maximo, e muitas vezes humilhada. Mas diferente de Sang, que tem uma vertente religiosa onde permite parar e pensar se o que ele está fazendo é certo ou errado, ou se isso vai lhe fazer bem como pessoa, Tae é ateia, não se prende a dogmas sobre vida e morte e de certa maneira ela quer é vingança por não ter a vida que. de fato, ela merecia, e manipula as peças mais importantes do tabuleiro pra conseguir o que quer.

Então mesmo antes da transformação de fato, ela já era realmente a única vampira do filme, e enquanto o agora ex-padre tenta continuar sua vida sem ter que machucar ninguém, ou alguém que não quer ser machucado, já que apela uma hora até pra suicidas. Tanto que quando ela começa a matança, fica chamando ele de “Padre isso, Padre aquilo” tirando com a cara dele do fato que de espírito ele nunca tirou a batina. Ele sabe que é um circulo vicioso de mortes e isso não
lhe faz bem, pois eles se amam, mas tem idéias contrárias de como levar sua vida. No fim, enquanto ela tenta se alimentar mais, ele procura redenção, mesmo sabendo que pelo o que ele fez,vai só pra um lugar... E isso mostra dois tipos de pensamentos que entram em acordo no fim e suas respectivas reações ao fato de *SPOILERS eles morrerem fritando no sol, já que alho, facadas no coração e cruzes não adiantam SPOILERS*. Ele já sabe pra onde vai, mas aceita seu destino com calma e consciência limpa, já ela se desespera pelo fato daquilo estar acontecendo.

Outra coisa a destacar é como as mitologias ocidentais e orientais são colocadas mas sem interferir um ao outro. Você tem a idéia do vampiro, obvio, mas também tem o encosto que aparece em tantos filmes (O Chamado, por exemplo). Eu não gosto do lance do encosto, porque tem seus prós e contras, ou fica assustador demais, ou ridículo demais, como acontece em igualdade nas cenas onde ele é utilizado.

No fim, Sede de Sangue não é um filme de terror de fato. É mais um drama romântico com toques de mangá e horror gore, mas serve principalmente pra mostrar que pode sim escrever uma historia sobre um vampiro se apaixonando sem frescuras, sem modismos, sem saídas fáceis e sem infantilidade.

Nota:9.5


Originalmente postando em: http://www.uarevaa.com/2009/10/sede-de-sangue.html