sexta-feira, 23 de maio de 2014

Review - X-Men: Days Of Future Past


E já fazem 14 anos desde o primeiro filmes dos X-Men, dirigido por Bryan Singer, chegava as telas e como foi explicado aqui ajudando a redefinir de maneira importante um gênero cinematográfico. E depois de muitos atos e baixos, chegou a hora do filme mais ambicioso da franquia encontrar seu público. Mas como o publico irá receber um projeto tão ambicioso, envolvendo duas versões da mesma franquia em momentos diferentes? A resposta para isso felizmente é muito boa, como será explicado abaixo com SPOILERS!!! Então tomem cuidado e sigam com a leitura.

O filme começa no futuro, exatamente 20 anos após os eventos de 'The Last Stand' onde boa parte da humanidade, homo sapiens e mutantes, foi dizimada pelos robôs Sentinelas, criados nos anos 70 por Bolivar Trask (Peter Dinklage) cientista e belicista que sempre viu os mutantes como uma ameça em comum que poderia unir a humanidade. graças a uma profunda investigação do DNA da Mistica (Jeniffer Lawrence), feita prisoneira e cobaia pelas Industrias Trask após ela assassinar seu fundador, fez que, 50 anos depois, os Sentinelas fossem maquinas de matar supremas. A própria natureza genética da codificação mutante apontou todos como alvos no futuro, destruindo nações e dizimando milhões de vidas.


Como ultima e desesperada esperança, o velho Charles Xavier (Patrick Stewart) convence Kitty Pryde (Ellen Page), agora evoluída com o poder de mandar a consciência de pessoas de volta no tempo, a mandar Wolverine (Hugh Jackman) pro passado afim de evitar a tragédia que iria desencadear o mundo distópico em que vivem. Mas no passado, ele não apenas terá que lidar com um jovem depressivo Xavier (James Mcavoy), mas também uma vingativa Mística, um extremamente calculista Magneto (Michael Fassbender) e os riscos físicos que a viagem temporal traz ao seu cérebro.


Bryan Singer conseguiu o que muitos considerava o impossível: não só corrigiu seus erros dos filmes da franquia anteriormente feitos por ele, mas como manteve o alto nível de qualidade de First Class, ampliou o escopo dos filmes e ainda concertou os erros, sejam eles cronológicos ou apenas questões criativas ruins, dos filmes anteriores. Além disso, conseguiu equilibrar temas anteriores dos outros filmes da franquia X com temas inéditos apresentados neste filme, além de colocar inúmeras referencias aos quadrinhos e piadas internas funcionais e nada forçadas (viu Whedon?) relacionadas a própria franquia. Muito foi discutido sobre a questão cronológica dos filmes (da qual eu explorei profundamente aqui), mas no fim das contas, sendo direto: First Class funciona como um retcon, e DOFP funciona como o reboot completo da franquia. Possibilidades muito, mas MUITO boas estão por vir a frente, sem sombra de duvidas.


Xavier é mostrado em um incomum: andando, mas sem poderes e completamente desleixado consigo mesmo e sua vida pessoal, vemos um homem deprimido de fato. Porém o fato da cura para sua paralisia (que bloqueia seus poderes) criada pelo Fera, pra mim, é a questão mais genial inserida dentro da construção do personagem neste filme: a cura é claramente uma alegoria ao uso da heroína, mostrando a dependência deste homem a normalidade da qual lhe era tão segura antes de se envolver com a CIA. O grande desafio de Charles é que ele só pode continuar a viver e ficar de bom consigo mesmo e seus poderes se aceitar a atual situação em que ele se encontra, como paralítico, e seguir em frente dando as pessoas aquilo que é sua maior vocação: de mentor, líder e especialmente, de não só dar esperança mas ter esperança.


Hank McCoy/Fera (Nicholas Holt) é o único que ficou ao lado de Charles quando a Escola fechou e muitos de seus alunos e companheiros de classe foram lutar no Vietnam. Dos antigos professores, só ele ficou, o que torna ambígua a frase dita por ele no filme: "Aqui não tem mais professores." Se Charles se deprime e se isola, Hank, que vê sua mutação como algo que afastaria do mundo exterior e a Escola para Super Dotados como único meio de seguir sua vida, apenas fica junto de seu amigo, a espera que um dia ele volte a ser o mesmo homem de antes e siga o seu trabalho.


Mas ao mesmo tempo, ele é responsável pela cura que permite Charles andar, e ficar completamente dependente dela. Mesmo fazendo isso com a melhor das intenções, no final Hank acaba ficando ao lado dele mais para impedir que seu paciente se entregue completamente ao vício. E além disso, ele abraça seu lado animal como uma máscara, especialmente depois de sofrer situações onde sua mutação é exposta para o publico. McCoy passa no filme mais um momento de transição do que uma mudança de fato, mas a evolução dele no filme é bem feita, e seu grande desejo, de se sentir útil como professor e pessoa, provavelmente se tornará realidade a partir de agora.


E pela primeira vez nas telas, finalmente Wolverine toma o papel de personagem coadjuvante, um ato muito bem vindo por muitos que queria ver outros mutantes tendo melhor destaque. A participação do personagem, ainda que resente na maioria das cenas, ainda sim não eclipsa o real foco da história, e oferece a visão do personagem sobre a época mas a sensação de que estamos vendo o filme pelo seu ponto de vista, como por exemplo foi feito em quase todo filme da franquia. Desnecessário dizer que Hugh Jackman está bem mais confortável em fazer o papel e se sai bem todas as vezes que tem que vestir o manto do personagem. Sua interpretação continua o trabalho de 'The Wolverine' de tentar o personagem com um ar novo, e novamente consegue tal objetivo. E um ótimo plus: os acontecimentos de 'X-Men Origens: Wolverine' foram desconsiderados da nova cronologia!!!


Mística e Magneto tem suas posições  bem mais definidas neste filme, mesmo que antagônicas. Mística viu na agora desmembrada Irmandade dos Mutantes uma nova família com interesses em comum,mas que as constantes batalhas deixaram ela em uma posição em que ela se sente que deve se vingar de seus irmãos caídos em batalha, mas sem pensar nas consequências disso. O grande, e maior embate do filme, é sobre exatamente Mistica concretizar de qual lado ela se posiciona, ganhar sua independência não só das idéias do Magneto, mas também da recuperação da confiança que Xavier tem com ela.


Enquanto isso, Eric, preso ao tentar salvar o (secretamente mutante) JFK da morte certa, tem planos mais grandiosos devidos as revelações e consequência da chegada do suposto viajante do tempo. Agora, a questão de defender os interesses mutantes, especialmente de dominação da espécie no planeta, já que não deve se correr o risco de os humanos revidarem com maquinas ou seja o que for. E graças a ele, acontece uma das grandes mudanças cronológicas da franquia: se os mutantes anteriormente vieram a público nos anos 90, agora eles aparecem ao mundo de fato nos anos 70, abrindo ainda mais possibilidades futuras para a franquia.


No fim, temos novamente a trinca Xavier-Mística-Magneto, mas se antes eles procuravam buscar suas próprias identidades dentro do conflito e o desmembramento destas amizades, dessa vez eles finalmente expostos a situações em que testam as posições em que escolheram, ao mesmo tempo que isso faça que elas se redefinam e fiquem fixas de vez, além de redescobrirem que mesmo lutando em lados opostos, eles ainda se importam um com o outro, e sentem ressentimentos de como tudo acabou na ultima vez. Mística acaba por agir por seus próprios interesses, descobrindo que a jitos mais sutis do que a violência, ao mesmo tempo que fica distante da influência de Magneto, que oficialmente virou um inimigo do Estado (e um herói para certos mutantes, certamente), e o mais importante, Xavier recupera sua estima, seus poderes e aceita não somente a sua posição como líder de uma movimento mutante mais pacifista, mas também de que nada nesta vida é certo, e por certas mudanças se vale a pena lutar.


E algo bastante discutido entre os fãs é a presença do Mercúrio/Peter Maximorff (Evan Peters) no filme. A roupa dele, simbolizando como um adolescente dos anos 70 se vestiria como um agente secreto/super herói com as roupas que tem no armário, gerou um mar de polêmicas. Mas os haters dessa vez queimaram a língua: Peters traz um dos grandes pontos altos no filme, tenso sua utilização bem feita e justificada, mostrando o velocista cleptomaníaco e sacana que em cada cena te deixa com mais vontade de ver mais dele em tela. e a cena em que vemos como é a extensão de seu poder é sensacional e hilária. Independente do que Whedon venha mostrar em 'Age of Ultron'  (e tendo Aaron Taylor-Johnson ao seu lado também não ajuda), eles vão ter um enorme trabalho de superar o awesomeness de Evan Peters neste filme. Deixou um gosto de "quero mais" e ele voltar em 'Apocalypse' com sua irmã a tira-colo será uma adição mais do que bem vinda a franquia.


Importante falar de Bolivar Trask e de como ele é incomum: ele é um cientista, mas também um belicista,e seu pensamento e puramente clinico e racional, e bem digno do momento: só um terceiro inimigo em comum para que dois velhos inimigos façam as pazes e se unam. Isso remete a  Watchmen fortemente , apesar de o contexto ser bem diferente: as potências não estão mais interessadas em mais uma guerra ocorrendo paralelamente, além da Guerra fria, o que faz Trask a se submeter a alianças comerciais não confiáveis no ponto de vista do governo americano (leia-se: comunistas).


No fundo, temos um intelectual preconceituoso vítima de seus próprios preconceitos e de sua desesperada tentativa de salvar o mundo, e mesmo em seu ponto de vista fazendo sentido no olhar do homo sapiens, ele acaba sendo mais vil do que aqueles que combate (outra analogia que fica ao longo do filme). Além disso, faz todo sentido ter Willian Stryker (Josh Helman) ao seu lado, como o elo militar entre a Casa Branca e as Industrias Trask, e dá uma motivação do mesmo seguir esse caminho no futuro: pra que usar armas contra mutantes se podemos usar mutantes como armas?


Indo por futuro, ele, assim como nas HQs, é brutal, e não tem vergonha de mostrar isso desde o começo. Campos de concentração, cadáveres por todo o lugar, destruição, mutantes e homo sapiens praticamente extintos, o futuro é negro, sem esperança, sem dias felizes. A introdução da equipe liderada por Kitty Pryde e Bobby Drake (Shawn Ashmore) define bem os papéis de cada um da equipe e sua importância, e seus confrontos permitem mostrar a violência dos Sentinelas em toda sua glória. Apesar de não conhecermos a fundo suas origens, a posição desesperadora em que eles se encontram e as suas consequentes (e brutais) mortes fazem o publico criar os laços com os personagens no futuro. todos ali tem um porque de estarem ali e sua importância no plano maior das coisas.


Interessante citar que a brutalidade e os Sentinelas estão ligados desde o começo: a maioria dos membros da Irmandade dos Mutantes foram mortos durantes testes militares de Trask com os Sentinelas, sendo que outros mutantes, como Banshee e Emma Frost, foram mortos exatamente por causa em algum momentos eles procuraram defender a causa mutante por si só. Acho que esse é o melhor ponto dento de DOFP, e o que faz tornar o melhor filme da franquia: ele consegue reunir tudo de bom dentro da franquia e não somente criar um final digno a antiga timeline (que por ironia casual ou não estava em seu futuro "condenada") e reabrir novas possibilidades dentro do filme e além, agora tendo uma linha temporal bem mais definida.


E mais interessante ainda como ele traz a tona os temos discutidos em filmes anteriores:  'X-men' é sobre a analise dos dois lados de uma mesma moeda, 'X-Men 2' é sobre fé e crença e 'X-Men 3' é sobre afirmar suas escolhas e se desprender do que já foi. E no final, uma mensagem que ressoa em todas as épocas: será que a violência é a solução definitiva? Combater ódio contra ódio vai um dia nos levar a alguma paz? Como filme responde, as vezes o ato de não-violência ressoa e tem mais impacto do que um ato brutal. Espera-se que seja uma lição que ressoe além da salas de cinema.

NOTA: 9.5

OBS 1: Fiquem de olho nos cameos de Chris Claremont e Lee Wein no filme!!!

OBS 2:  EN SABAH NUR!!! EN SABAH NUR!!! EN SABAH NUR!!! EN SABAH NUR!!!