segunda-feira, 12 de maio de 2014

Analisando os X-Men de Bryan Singer


Com a aproximação da chegada de 'X-Men: Dias de um Futuro Esquecido', vamos também voltar no tempo e ver como isso tudo começou, com os filmes dirigidos pelo diretor Bryan Singer, e ver não só a importância desses filmes para o gênero, como esses personagens funcionam nas telas e se essa adaptação merecem ser condenada como alguns fãs fazem, confira mais abaixo:


Seriedade acima de tudo

Mas o que de novo trouxe os filmes do X-Men não só para o gênero, que o tornaram tão importante? O que ele começou a fazer de diferente? Os filmes baseados em quadrinhos nos anos 90 tinham uma característica bastante definida: eles eram visualmente muito bacanas. pegando as adaptações mais adultas, como por exemplo 'O Corvo', mesmo para um publico mais velho, e com uma abordagem mais amadurecida para as histórias, não necessariamente se mantinham num ambiente que você sentia que pudesse olhar pela janela. Blade mudou esse cenário, utilizando, ouço dizer, desde 'Superman' do Richard Donner, uma abordagem realística  não só dos personagens mas das situações dentro da maturidade do storytelling que os filmes da cultura pop dos anos 90 estavam começando a absorver fortemente, e no gênero de adaptação de HQs.


Mas mesmo com Blade, com sua temática mais adulta, ainda utilizava sua realidade como algo estético, já que era importante vender ali que existia vampiros no mundo real, não  não necessariamente utilizava disso para se falar do mundo real. Mas o que X-Men, tendo ao seu lado o fator sci-fi em mãos, conseguiu ir um passo muito além, e importante, dentro do gênero: a realidade deixou de se tornar somente algo estético dentro destes filmes baseados em HQs para se tornar algo a ser o conceito da coisa: como as melhores histórias, seja dentro ou fora do cinema, o lado fantasioso se torna não somente algo para explorar a vida e dinâmica desses personagens, mas como os quadrinhos em si dos personagens, serve para falar verdades e trazer a tona polêmicas.

Em resumo: pela primeira vez, os filmes de quadrinhos iriam falar serio, e soar sério, sobre assuntos que nós, como sociedade, vemos todos dia, por mais fantasia que eles contenham. Por mais que tenhamos pessoas com poderes, soltando lasers e lendo mentes, o mundo presente ali não só faz você acreditar que os acontecimentos são reais, mas que especialmente, aquilo poderia ser o mundo real. E essa realidade exagerada dos filmes de super heróis, reflexo da tentativa de não fazer novamente um 'Batman & Robin' da vida, caiu que nem uma luva no filmes dos mutantes.


Assuntos como (obviamente) racismo, direito de ir e vir, liberdades como individuo e cidadão estão presentes neste filme, além de especialmente, homossexualidade, coisa que ajudou a chamar duas peças importantes na equipe do filme. Bryan Singer, que é homossexual, colocou várias alegorias dentro do filme especificando bem esse lado (mas ao mesmo tempo abrangendo a todo e qualquer tipo de racismo) e Ian Mckellen (que também é homossexual) só entrou no filme porque exatamente ele poderia mostrar com esse papel para o publico mainstream o tipo de tratamento que não só homossexuais, mas também judeus, negros e outras consideradas minorias sofrem por meio da alegoria da mutação. A mensagem ali no fundo era muito mais forte e potente que até então os filmes de quadrinhos estavam acostumados a passar. Digo que 'Ghost World' e 'X-Men' marcam o começo da transição do gênero, mostrando que quadrinhos no fundo, não é um gênero específico e que poderia trazer e falar muito mais do que aparentemente heróis e vilões de colant, e que essas mesmas pessoas de colant também poderiam falar sobre o mundo real de alguma forma.

Apesar de em seu primeiro filme, por causa do moderado custo de produção, ele não pode ir tão fundo no quesito espetáculo, Singer, a sua maneira, estabeleceu muito bem o mundo dos X-Men com suas regras e pontos de vistas, construindo assim uma base sólida para a franquia, apontando o que há de certo e errado naquele mundo em relação aos pontos de vista (marca bastante importante no primeiro filme) sobre a "polêmica" mutante. Vemos dois lados de uma mesmo moeda, buscando uma solução para o mesmo problema, mas com abordagens opostas, voltando exatamente ao conceito de Singer mostrar Xavier e Magneto como Martin Luther King e Malcolm X.


Em X-Men 2, ele pode mergulhar fundo no espetáculo e no desenvolvimento dos personagens, mesmo que seus poucos defeitos sejam não somente consequências dos considerados erros do primeiro filme, mas isso iremos falar mais a frente aqui. Aqui a polêmica sobre mutantes é levada até então a  extremos na  época, mostrando de fato uma intervenção milita num reduto até então de refúgio para mutantes afim de que fazer prisoneiros - e cobaias- nas mãos de William Stryker (Brian Cox), além de trazer um elementos bastante humano no meio disso tudo: a questão de fé, no sentido religioso, sentimental e também politico.

Wolverine e a figura do herói moderno

Agora entramos em um dos grandes e polêmicos tópicos sobre se falar dos filmes da franquia-X: a interpretação de Wolverine, do qual é normalmente definido  como o melhor no que faz, mesmo o que ele faça não seja algo bom. Esta frase, vindo diretamente da revista feita por Frank Miller e Chris Claremont, mostra e define por completo as facetas do personagem: um guerreiro, um solitário, um animal e, porque não, um amante. isso é, as definições principais do personagem e se encaixam em inúmeros exemples mostrados dentro dos filmes. Mas mesmo assim, há por parte dos fãs uma serie de  reclamações sobre como ele é retratado ali. Mas será que realmente essas reclamações são válidas?


A escolha do desconhecido australiano Hugh Jackman fez muitas pessoas reclamarem, especialmente por ser alguém bem mais alto do que os personagem da HQs, preocupação também compartilhada por Singer: nos making-offs do primeiro filme aparece o diretor falando que tenta deixar o ator o menor possível na tela em relação aos outros, na sequencia isso já descartado. Outra reclamação frequente também é o constante destaque dado a ele dentro do filmes (falaremos isso mais a frente). Outra reclamação vista também é de seus poderes de cura funcionam de maneira bem mais acelerada que as HQs, mas francamente acho que isso não é um problema tão sério quanto fazem parecer, sendo que nos quadrinhos vimos exemplos bem mais exagerados disso.

Mas o Wolverine do Hugh Jackman é mais do que o Wolverine dos quadrinhos. Ele tem elementos de Jim Stark,  JJ Gites, Rooster Cogburn, Coogan. É tudo aquilo que ele é nas HQs, um guerreiro, um animal, um solitário e um amante. Mas as influências cinematográficas o tornam algo mais especial: um líder, um cowboy, um rebelde, um homem de honra, que mesmo quando sente que não devia se envolver ou que não há escapatória, procura lutar pelo que é justo. Isso o torna um herói que cria apelo para todos os públicos: homens, mulheres, crianças e adultos. Homens querem ser legais que nem, as mulheres querem ter alguém como ele para cuidar, as crianças ficam embasbacadas com seus feitos. A formula criada para redefinir Wolverine nas telas, e mais o que Hugh Jackman inseriu, de certa forma influenciou uma gama de outros personagens em adaptações em HQs, de diferentes formas: Batman de Christian Bale, o Tony Stark de Robert Downey Jr, o Thor de Chris Hermsworth, o Slade Wilson de Manu Bennet. Hugh Jackman é o Christopher Reeve da franquia.


E tudo isso que foi dito até então é mais do que comprovado por 'The Wolverine', filme do qual recebeu várias criticas de fãs devido a exploração de um lado mais emocional do personagem e da falta daquilo que era considerado uma violência mais gore do personagem (reclamação essa vinda desde o primeiro filme. Adaptações para outra mídia, seja de quadrinhos seja de qualquer coisa, tende a ter uma flexibilidade maior do que fazer, além de, claro, a vontade do diretor de acrescentar coisas deles para que se tornem a sua versão. Mas tudo isso, no caso, tem que ser acompanhado por um respeito e entendimento ao núcleo do que esse personagens e histórias são, coisa que SIM foi feita com Wolverine nos filmes, criando assim uma versão que respeita o original e mantem sua originalidade. Especialmente porque um filme mais focado na ação no que no desenvolvimento do personagem foi feito antes, e não deu muito certo...

O que seria ser um X-men?

X-Men, a partir dos anos 90, passou por uma pluralidade de equipes que se estende até hoje, inciada nos anos 80 mas em definitivamente em menor escala. E também, uma das reclamações da equipe, até justa de certo modo, foi das principais line-ups das revistas. Mas a pergunta feita aqui foi, porque os dois primeiros filmes do X-Men tem essa formação, ao invés de escolher uma já existente das HQs?


Primeiramente, é importante ver que o filme é consequência em parte não só do desespero da Marvel, que vendeu os direitos de suas franquias a vários estúdios de cinema quando estava abeira da falência, mas também do sucesso da animação dos anos 90. Animação essa, que gerou polêmica também em sua formação, ao introduzir Gambit e Vampira. por um lado, pareceu uma decisão óbvia devido ao sucesso das histórias de Chris Claremont e Jim Lee, mas se mostrou algo que irritou alguns fãs quando eles acabaram inseridos em histórias clássicas, como a saga da Fênix.

E a popularidade de alguns desses membros foi peça chave para a escolha dos membros dos filmes, já que até então, até nos quadrinhos, Jean, Ciclope e tempestade eram vistos como figuras de líderes, e a mesma coisa acontece nos filmes, já que é demonstrado que eles não só foram treinados por Xavier para ser sua equipe tática, mas também para ser os principais professores e mentores da Escola para Super Dotados. Já Wolverine e Vampira serviram para ser o olhar do publico (mais velho e mais jovem, os alvos da audiência a serem atingidos especificamente), e os dois considerados "Outsiders" dentro da estrutura da Escola.


Outra razão mostrada da escolha de usar Wolverine e Vampira é exatamente explorar a ideia de contato: Logan não permite que as pessoas se aproximem dele, pois a solidão que ele sente o poderá fazer se apegar demais as ideias de ter uma família, ou uma esposa. Já Vampira, fica mais evidente isso, por causa dos seus poderes e a idade em que eles se desenvolvem, durante o período de adolescência já entrando na fase adulta, um período de grandes experimentações sociais e também sexuais. isso ajuda ainda mais a fazer o elo com o publico, no momento em que estes personagens descobrem e desvendam esse mundo, e baseado em no que sentem em relação a isso, a ideia de ter uma nova família, tomam decisões que vão guiar o olhar o publico sobre a trama.


Já na Irmandade dos Mutantes, temos um mix de mutantes populares (e antagonistas naturais da equipe) com Groxo sendo o único membros clássicos dos quadrinhos. Mas a intenção é clara dentro da grande mensagem: os X-men, que andam entre os humanos como se fossem um deles, sofrem ao tentar esconder seus poderes apesar de ser visualmente como um humano comum. A Irmandade, por outro lado, tem exposta a flor da pele as suas mutações, mas porém não procuram se esconder em sinal de vergonha, expõe isso orgulhosos de ser de fato o próximo passo na cadeia evolutiva.

Já em X-Men 2, temos na verdade tudo misturado, heróis e vilões mutantes, transformados fisicamente ou não, sobre as armas apontadas por Stryker, relembrando a ambos os lados que mesmo divididos entre si, ainda são um grupo unido pelo medo e a perseguição. Além disso, teríamos 3 "sub-divisões" de equipes, que se misturam ao longo da história: dos veteranos (Wolverine, Ciclope, Jean, Tempestade, Xavier), os "Novos Mutantes" (Homem de Gelo, Vampira, Pyro) - que na época a Fox tinha planos de fazer um spin off com essa franquia, e a Irmandade (Magneto, Mistica). A interessante adição aqui fica com o Noturno (Allan Cumming), que acaba sendo o questionamento do primeiro filme: o nosso exterior não importa, por quão diferente seja, pois no fundo, somo todos iguais por dentro, no caso, são todos mutantes tentando sobreviver e especialmente viver num mundo melhor, onde não possamos ser julgados nem por terceiros e nem mesmo por alguém de nossa raça.


Por fim, a maleabilidade das adaptações permite que mudanças na formação sejam feitas a partir da demanda das histórias. No fim, limitar a equipe a uma formação específica pode prender ou até mesmo atrapalhar o desenvolvimento da trama. E especialmente com a pluralidade de diferentes formações e demandas das mesmas de inúmeras equipes-X dos anos 80 para cá, é querer diminuir em si o próprio potencial e a pluralidade daquele universo.


E olha que essa é uma line-up recente e já relativamente antiga...

Quais são os erros e deve se culpar alguém?

Bem, chegamos a parte de apontar o que foi feito de errado dentro dos dois primeiros filmes. Os principais problemas normalmente apontados são o destaque exagerado ao Wolverine, a diminuição do papel do Ciclope, assim como também as participações menores de outros mutantes nos filmes. O ultimo problema, mesmo que desde o principio houve a consciência de que eram só easter eggs a ser explorados no futuro (ou não), entra nas reclamações por motivos discutidos no tópico anterior. Mas os dois primeiros, pelo menos eu vejo  uma explicação bem lógica para isso: a culpa é de ninguém menos do que do fã /fanboy.

Wolverine sempre teve a fama de ser bad-ass, e até hoje a Marvel explora isso imensamente, e sempre retornando com lucros. Ele de fato é tão popular que a Marvel já colocou (mais de uma vez) ele em todas as capas de suas revistas, mesmo aqueles fora da linha 'X-Men' (abordagem essa que está sendo feita cada vez mais alias). E mesmo sendo um grande líder, e um eximo combatente, com um background bastante interessante, Ciclope é ainda taxado de personagem "certinho demais", de personagem coxinha, de um cara que age que nem um imbecil conscientemente ou não, que geram posts que nem esse, esse e esse, só para citar alguns por aí. Não significa que essas pessoas estejam certas, porque não estão, mas essa é definitivamente uma opinião forte que se tem presente dentro do fandom.


O grande problema, a principio, que a Fox, que também fez o desenho, sabia disso tudo, já tinha esse feedback, eles estavam conscientes das escolhas de que diminuir de alguma forma o papel do Ciclope poderiam causar. E mesmo colocando Wolverine em destaque no primeiro filme (porque ele vende, e muito, isso é fato), havia sido não só mostrado Ciclope como o líder de fato, mas aquele que poderia substituir Xavier no futuro. Mas é aquilo, no momento em que você oferece a trama, você colhe o que planta. E no fim das contas, a Fox também é culpada nisso, em poder ter mudado esse cenário para dar destaque ao Scott Summers e não ter feito, porque afinal em time que se ganha não se mexe.

Vendo em retrospecto, James Marsden fez um bom Ciclope, e que é correto em caracterização: um cara sisudo, correto, que não revela seus sentimentos facilmente e que ama sua mulher incondicionalmente, e só explode quando alguém mexe com ela, no caso Wolverine. Originalmente a ideia era que, caso Bryan Singer fizesse um  'X-men 3', era usar a morte da Jean (e sua ressurreição) para de fato mostrar Ciclope como um líder, que passa a treinar e preparar os X-men constantemente para que outro ataque como Stryker, ou seja lá de quem for, tenha uma resposta a altura.


Só que, quando o primeiro filme chegou ao cinemas, as reações, que já estavam na cabeça dos fãs mais de certo modo no inconsciente popular, despertaram com força outra vez, e teve suas consequências claras no filme seguinte. Se Singer não seguisse seu coração e fosse fazer 'Superman - O Retorno', talvez ele poderia ter trazido a tão justa oportunidade de brilhar, já que os comentários apontavam como um filme centrado no relacionamento dos dois.Ou seja, um lado do triangulo amoroso foi fechado em 'X-Men 2' e o outro lado, mais importante desse triangulo seria fechado em 'X-Men 3'. Mas é aquilo, não se pode chorar diante o leite derramado, ou o mutante descartado, como foi o fim de 'Ciclope' no mediano porém divertido 'The Last Stand'.

E é claro que a Fox, assim como a Marvel, nunca vai parar de usar e vender o Wolverine, especialmente com alguém com uma interpretação tão boa quanto a feita pelo Hugh Jackman. O desafio pro futuro era como utilizar o personagem, dar destaque a ele mas sem o tornar o astro do filme e o centro da história (comentário/piada essa feita nos dois primeiros filmes pelo Magneto), especialmente tendo agora sua própria franquia solo para ir mais longe com o personagem e porque, de qualquer modo o personagem vende. Colocar ele junto com Halle Berry ou Jeniffer Lawrence nos posters obviamente é um chamariz pro publico, mas pode e tem brechas para deixar de ser lei também dentro do filme.


E por hoje é só pessoal, a minha resenha de 'Days of Futures Past' chega daqui a 2 semanas e saberemos se Bryan Singer evoluiu junto com o gênero que ele ajudou a consolidar ou ele vai ficar para trás. Enquanto isso, leiam meus reviews de 'X-Men' e 'X-Men 2'. Até a próxima!