sexta-feira, 17 de julho de 2015

Review: Ant-Man


A Fase 2 de filmes da Marvel Studios, como já discuti aqui, ela é BEM problemática. Se é até compreensível a Fase 1 ter sido um pouco corrida para que o filme dos Vingadores acontecesse, esperava-se que a Fase 2 fosse dar um pouco mais de liberdade criativa ao diretores. O que se viu foi bem ao contrário. Com seu sucesso massivo, Kevin Feige continuou a aplicar seu estilo Fordista, e um excessivo controle nas produções, afim da maquina continuar girando e gerando dinheiro, mesmo que o lado criativo tenha que se adequar as formulas, ou pior, mudar tudo que foi construído na pós produção. Apesar disso com o tempo ficar cada vez mais claro que como filme eles sejam altamente descartáveis, não significa que a Marvel, como empresa consolidada, lucre menos. Não estou julgando aqui o fato deles querem dinheiro, afinal essas coisas foram feitas para se pagar, mas como fã de quadrinhos, é triste ver algo com tanta história e mensagens acabar criando uma relação sentimental bastante superficial com as pessoas.

E isso nos leva ao Homem Formiga.

Um dos primeiros filmes a serem anunciados ainda na Fase 1, houve uma comoção pois o diretor seriam ninguém menos que Edgar Wright, diretor responsável pela Trilogia do Cornetto,  que gerou grande empolgação da parte de todos. Porém, com seus conflitos de agenda, cada vez mais mais o filme do Homem Formiga foi empurrado, até chegar a Fase 2 como o filme que fecharia essa "temporada". Mas com os planos já bem definidos sobre qual caminho o personagem deveria seguir dentro do mapa de acontecimentos de seu universo cinemático, Edgar e Kevin Feige começaram a bater cabeça ao ponto que, praticamente no inicio das filmagens, Wright saísse da cadeira de diretor, deixando fãs decepcionados e com um grande pepino em mãos: quem teria a "ingrata" tarefa de terminar o filme? E como colocar seu input num projeto que anteriormente tinha uma marca autoral tão forte?


O escolhido para isso foi Peyton Reed, que tem uma bastante eclética carreiras em comédias, além de ter sido um dos diretores que poderia dirigir o Quarteto Fantástico no passado. A trama básica de Edgar não foi mexida (afinal, o relógio estava passando), mas certas coisas foram acrescentadas e modificadas. Por exemplo, o Nanowarrior de Wright acabou virando o Jaqueta Amarela, a inclusão do Reino Quântico, do Falcão e da Janet como Vespa. Das coisas que acabaram ficando no filme, foram a relação mentor/aprendiz de Pym com Lang, de ser um "filme de roubo", além das  montagens rápidas de conversação do personagem de Michel Peña.

E com isso a trama do filme fica a seguinte: Hank Pym (Michael Douglas), um ex-agente da SHIELD e cientista, descobriu como diminuir o corpo do ser humano a nível molecular e aumentar a força do mesmo com as 'Partículas Pym', além de criar uma tecnologia de comunicação com formigas que lhe deu a alcunha de Homem Formiga. Com o interesse militar e da SHIELD nas Partículas, logo após a morte de sua esposa Janet, ele decidiu ficar em reclusão e criou sua própria empresa.


No tempo presente, Scott Lang (Paul Rudd), um especialista em assaltos e recém ex-presidiário, tenta entrar numa vida honesta para poder ter mais contato com sua filha, vivendo atualmente com a mãe e com o padastro. Mas seus caminhos se encontram com Hank Pym, que quer impedir a militarização das Partículas Pym na forma do Jaqueta Amarela, criada pelo seu ex-pupilo e atual dono da empresa da qual construiu, Darren Cross (Corey Stoll). Junto com a filha de Hank, Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) e seus colegas de profissão, Scott Lang terá que assumir o manto do Homem Formiga e não somente roubar a tecnologia de cross, mas no processo se tornar o herói que sua filha espera que seja.


Os velhos e complicados problemas que cercam as produções da Marvel Studios ainda estão bem presentes, mas diferente dos últimos filmes deles, a diferença  Homem-Formiga reconhece que esses elementos são obrigados a estarem ali, dentro do padrão formulístico do estúdio, mas em compensação eles sabem dosar muito bem tudo, ao ponto de não estragar a experiência de ver o filme em si, mesmo que no fim, exatamente por novos e velhos problemas, não se torne um clássico no gênero.

As piadas conseguem ser agradáveis sem atrapalhar nem o ritmo nem o desenvolvimento do filme, e especialmente, por ter sido escrito por um comediante, teve algo que a Marvel definitivamente não tem: timing. No único momento em que o humor consegue arruinar uma cena emocional importante, o filme em si tem consciência disso e faz aquela piada se tornar engraçada. Até mesmo o fato de encaixarem a participação de um dos Vingadores, no caso o Falcão (Anthony Mack), não foi nem soou forçada e serviu não somente ao enredo, mas a construção de cenário pro seu universo cinemático.

Por outro lado, por mais que Hank, Hope e Lang, sejam interpretados muito bem por seus respectivos atores, há a falta de conexão entre eles em relação ao publico. O filme acaba sofrendo o mesmo mal de 'O Incrível Hulk', de que a necessidade da sequência de ação acontecer acaba acelerando o desenvolvimento dos personagens e por fim enterrando o mesmo. Não que o filme não saiba trabalhar com os momentos emocionais, mas eles servem mais a cena de ação do que ao contrário, como tudo sendo um grande manual de instruções do terceiro ato.


Filmes como 'Ocean Eleven' e 'Mad Max: Fury Road funcionam bem melhor pois a ação (no sentido de acontecimento, pequeno ou grande) é construída a partir das relações entre os personagens e as necessidades que se tiram a partir daí. O segundo ato se torna uma montagem gigante de treinamento e perde aquilo que fluía tão bem em relação aos acontecimentos do primeiro ato, que somando ao fato do terceiro ato precisar acontecer logo, não permite explorar mais a fundo ou de maneira diferente as relações entre a trinca principal. O relacionamento de Lang com sua Gangue flui muito melhor nesse sentido, de você sentir o peso da história entre eles com o que é mostrado.

Mas como disse antes, a simplicidade torna esse filme agradável de se ver. É uma história que funciona sendo numa escala menor e isso sim é uma mudança bem vinda dentro dos filmes da editora/estúdio, É focado totalmente sobre a introdução deste personagem e seu objetivo é muito mais pé no chão e consegue ser grandioso nas pequenas coisas (pun not intended), e apesar da relação deles não ser explorada da maneira mais correta, os personagens funcionam.

Hank Pym é o cientista que sente o peso da responsabilidade de sua criação, e pelo fato de ser um homem de ciência não significa que ele não sabe agir numa briga. Scott Lang é o ladrão de bom coração, que quer realmente uma oportunidade de se regenerar e ser o pai que a filha precisa. Hope tem bastante trejeitos da personalidade da sua mãe, e isso por um lado é ótimo e ruim, já que colocaram Janet em uma "geladeira" subatômica mas exploraram certos detalhes da personagem em sua filha. Vale a pena dar destaque a Kurt (David Dastmalchian), Dave (T.I) e especial Luis (Michael Peña), que não só conseguem funcionar dentro do contexto das cenas de ação mas também são os melhores alívios cômicos nos filmes da Marvel Studios em um BOM tempo.


O elo fraco da corrente mora novamente nos vilões. Apesar de respeitarem bastante a personalidade e origens do Jaqueta Amarela, faltou mais espaço não só pra desenvolver a relação dele com os personagens da trama melhor, mas especial o lado psicológico volátil e violento que surge ao se lidar com uma tecnologia que não se conhece. Martin Donovan como Mitchell Carson foi uma adição que deve servir muito mais a "Civil War" e outros futuros filmes do que sua primeira aparição no caso.


As cenas de ação merecem um elogio a parte, com a exploração bem feita não somente do 3D mas do fato do personagem poder ficam bem pequeno, além da interação dele com os diferentes tipos de formigas e da tecnologia de Pym, e como isso se paga na grande sequência de roubo. Outro destaque é a psicodélica viagem através do Reino Quântico, que com certeza só foi uma amostra da verdadeira viagem de ácido que 'Doctor Strange' deve ser, além de ser o melhor uso do 3D do filme. E novamente, uma cena solta encerra o filme, enquanto tinha uma cena pós créditos que poderia ter muito bem encerrado o filme de fato, tornando o fim em si bem melhor. E jogar uma cena random de "Civil War" e chamar isso de cena pós credito? Você já foi melhor nisso Marvel...


No final, o que podemos dizer sobre 'Ant-Man'? Não é um filme excepcional, mas não é um filme ruim, de forma alguma. Tem os mesmos defeitos que a padronização dos filmes da Marvel Studios traz, mas de maneira muito mais branda, sem o exagero nos plots de Age of "Ultron"e a síndrome do "me ame por favor" que fez todos os defeitos se multiplicarem por mil como mostrado em Guardiões da Galaxia. È sem sombra de duvidas o filme mais equilibrado da Fase 2, mas não necessariamente o melhor filme da mesma.

NOTA: 7.0

PS: A minha lista de melhores filmes da Fase 2 da Marvel Studios sai semana que vem, se eu tomar vergonha na cara.