quinta-feira, 10 de abril de 2014

Review - Captain America: The Winter Soldier


Capitão América foi responsável por trazer o melhor filme da 'Fase 1' da Marvel Studios (haters gonna hate), Steve Rogers está de volta assumindo grandes responsabilidades, e uma escolha inusitada tanto na direção quanto em seus temas. Utilizando da estética de espionagem de conspiração e tendo em seu comando uma dupla de diretores ligados a inúmeros trabalhos com comédia, qual resultado poderia sair dessa combinação inusitada? Ela foi boa, mas certas coisas em relações ao hype foram meio exageradas. Confira mais abaixo, contém SPOILERS:


A história nos mostra Steve Rogers (Chris Evans) trabalhando em conjunto com a S.H.I.E.L.D. Apesar de estar mais confortável no mundo moderno, os segredos e tramas da organização o deixa desconfortável em relação ao real objetivo em seu trabalho. Após salvar uma embarcação da S.H.I.E.L.D. das mãos do pirata francês Bartroc (Georges St Pierre), uma serie de dados lá é retirados. Enquanto isso, em Washington, o diretor da S.H.I.E.L.D. Alexander Pierce (Robert Redford) lida com os governos do mundo a aprovação do Projeto Insight, que irá por 3 hellacarriers nos céus, altamente armados, que servirá para eliminar possíveis ameaças em instantes, algumas até mesmo antes de acontecer. Porém, esses dois acontecimentos revelam o plano de infiltração da HYDRA na agência, e como eles manipularam e dominaram a agência por completo. Descoberto a verdade por parte do Capitão América e da Viúva Negra (Scarlett Johansson), a HYDRA manda em seu encalço o seu melhor e mais letal assassino, O Soldado Invernal (Sebastian Stan), que tem profundas ligações com Steve Rogers.


Provavelmente um dos mais articulados filmes do estúdio, senão o mais articulado, 'The Winter Soldier' surpreende por trazer uma história de qualidade e questões morais até então não colocadas a mesa dentro dos filmes do estúdio, além das melhores cenas de ação já feitas por eles. Joss Whedon lidou com ação sua carreira inteira e não conseguiu, mesmo com toda a escala em mãos, trazer o nivel de excitação e qualidade das cenas de ação deste filme. Outro fator que merece parabéns é o fator "filme de espião" inserido no filme, uma mudança de tom bem vinda dentro da franquia e muito bem trabalhada dentro do filme, além de assimilar ao tom da HQ que lhe serviu de base.


Outro destaque positivo que, depois de Loki e Adrian 'Mandarim' Killian, Marvel está trazendo vilões que valem a pena. Não somente o sensacional retorno de Armin Zola (Toby Jones), em seu formato cibernético (e com uma  importância fundamental para o filme), o manipulador Alexander Pierce e O Soldado Invernal, tendo sua história na trama servindo mais a Steve Rogers do que o grande plot em si, mas nem por isso menos interessante. E mesmo com uma participação pequena, a imposição física de Bartroc impressiona, e muito. Outro destaque nas cenas de ação é Brock Rumlow, o futuro 'Ossos Cruzados' (Frank Grillo), que mesmo sendo um personagem mais ativo nas cenas de ação, conseguiu transmitir a personalidade que ele tem nas HQs bem na tela.


No lado dos mocinhos, a volta de Cobie Smulders como Maria Hill continua não tão expressiva assim apenas servindo de instrumento de mudança para a trama quando necessário. Nick Fury (Samuel L Jackson) mostra realmente ao que veio dessa vez, mostrando exatamente a inteligencia e sagacidade do personagem que vemos tanto na HQ. Viúva Negra se mostra mais próxima de sua contraparte das HQs, tanto no humor quanto em que passa em sua consciência. A volta de Hayley Atwell como Peggy Carter é um soco nos sentimentos, e um dos pontos altos em todo filme. Já sua filha, Sharon Carter, passa despercebida na maior parte do filme, exceto em algumas cenas onde um personagem que tem seu perfil se mostra necessária.


Mas a grande adição aqui foi realmente a presença de Sam Wilson, o Falcão (Anthony Mackie). O tipo de amigo que Steve sempre precisa, daquele que se pode confiar e se abrir sobre o que pensa e se sente, além de estar no lado dele para ajudar a fazer aquilo que é certo. Além disso, Steve vê Sam como alguem que voltou da guerra e conseguiu seguir em frente, e ainda assim ajudar outras pessoas como ele, um desejo que dá pra sentir que Steve tem a mesma vontade de fazer algo do tipo, mas ainda não passou por esse mesmo processo para se sentir bem consigo mesmo.


Mas a grande fraqueza do filme mora exatamente na ambiguidade e na mensagem em que ele procura mandar a partir disso. A ideia que a HYDRA tenha manipulado uma serie de situações que tenham deixado o mundo um lugar "onde as pessoas implorariam por segurança". E esse é o grande Calcanhar de Aquiles do filme: apesar deles querem vender um cenário de ambiguidade, na verdade as situações acabam caindo no preto-e-branco comum. A S.H.I.E.L.D deixa de funcionar como uma agencia reguladora dos Governos do Mundo que entra em uma área próxima do amoral em busca de um controle total sobre as ameças que enfrenta, tornando a HYDRA a semente do mal que destruiu esta sociedade, porque, de acordo com o filme, dá a entender que os governos dos países não tem desejos de poder e ambições politicas naturalmente, e se tem, é culpa das jogadas da HYDRA.


No fim das contas, a balança pesa mais para um lado do que outro, não há verdadeira ambiguidade ali, só máscaras. Outra coisa que confirma que a ambiguidade presente no filme é uma mascara são os finais dos personagens. Os mocinhos se deram bem, os vilões de eram mal. Mesmo a Viuvá Negra, com seu passado sujo revelado, escapa linda e bela da punição por seus erros passados. Não há perdas e danos em ambos os lados, nem alguns elementos de vitória ou ironias das mesmas em ambos os lados, aquilo que começa cinzenta acaba em preto e branco.


Este cenário funciona, por exemplo, na relação entre Steve Rogers e Buck Barnes, onde o Soldado Invernal, alguem que de fato era bom e foi modificado para se tornar mal, acaba lembando de sua vida passada, e de certa maneira começa o caminho de sua redenção, validando a opinião de Steve Rogers sobre ele, mas não necessariamente sobre o mundo em que ele vive. No fim das contas, o filme acaba mas você fica com uma sensação de estar faltando algo, de que algo na mensagem ali passada está incompleta.


Em um mundo cinzento de fato, ele começa e acaba cinzento, mesmo tendo vitórias e derrotas definidas. Nada ali acontece de graça, nada nesse esquema tem fim definido. Mas em Capitão América 2, a ambiguidade é uma mentira, a vida em preto e branco que é real. E  uma história de espionagem só funciona em sua plenitude quando você abraça que as coisas tem abertura para não estarem tão bem definidas ao longo de toda a jornada, coisa que no filme em questão é mudado bem rápido no momento em que (aparentemente) Nick Fury morre. Neste caso, apesar de ter gerado um filme bom, a sensação que fica é de que o tom do filme em geral ficou meio subutilizado, por querer jogar heróis em um jogo de espiões.


NOTA: 8.0

PS: coisas que estão anotadas no caderno de Steve Rogers para descobrir depois: Xuxa, Chaves, Wagner Moura, Mamonas Assassinas, Os Trapalhões. #ThisIsBrasil