quarta-feira, 29 de junho de 2016

Review: 'Batman v Superman: Dawn of Justice' - Ultimate Edition


Depois de alguns poucos meses e muita, mas muita discussão envolvida sobre, a versão estendida e original de 'Batman v Superman: Dawn of Justice' chegou (nas vendas digitais, o blu ray físico sai em Julho) e com muitas expectativas sobre como ele se sai, devido a forte incompreensão (e as vezes até má fé) as ideias do filme e do jeito que ele foi feito. Com a suspeita, e consequente afirmação que a Warner tinha vetado anteriormente a versão de 3 horas do filme pros cinemas, o que o filme muda em sua trama e o que muda também na percepção do publico? Continua abaixo, com SPOILERS.

A primeira grande mudança do filme acontece na cena na Africa, onde de fato somos introduzidos a Jimmy Olsen, fotografo e Agente da CIA (ainda quero um spin off disso), e vemos que o exército americano tem uma participação bem maior nas ações ocorridas naquele dia, com eles querendo explodir o local com drones quando o disfarce é revelado enquanto um pequeno grupo de elite, a contragosto de seus comandantes, decide fazer uma intervenção no local. Superman destrói os drones, salva Lois, mas até isso acontecer, já é tarde. KGBeast (Callan Mulvey) e seu comparsas já haviam matados todos e queimado os seus corpos para por a culpa no Superman. Quando o exército americano chega ao local, só há mortos e choro.


O que define o 'Ultimate Edition' no geral é tornar explicito o que era antes implícito. Se antes você fazia as informações serem processadas, agora elas estão bem a mostra na sua frente. Como vocês podem ver, não há brutais diferenças diferenças narrativas, mas te tira o trabalho de interpretar o que aconteceu. A cena continua sendo sobre uso do poder, continua colocando Superman como culpado, no ponto de vista de alguns, do atentado (mesmo que, novamente, fica bem claro que a culpa é de outros), só expõe mais sobre o que se trata ao invés de confiar a sua audiência sobre o que se trata. O que dá poder ao Superman, ou qualquer outro, de interferir na vida alheia? A diferença central entre o Theatrical Cut e o Ultimate Edition é essa, o quanto você expõe e o quanto você confia que o publico vai interpretar sobre, e se ele vai se dar ao trabalho disso.


Mas em certos pontos, essa explicação exacerbada pode acabar tirando a força de certos momentos antes poderosos no Theatrical Cut. Por exemplo, o fato de haver chumbo na cadeira de rodas de Wallace Keefe, por exemplo, foi uma boa adição pra narrativa contada no Ultimate Edition.  Mas isso tira muito da força do momento que ela explode o Capitólio, porque muda o sentido e o contexto da situação. No fato de que o Superman não ter enxergado a bomba no Theatrical Cut é porque ele exatamente não estava contando que tinha uma bomba ali, o que demonstra a confiança que ele depositava que o julgamento seria o momento que daria oportunidade a ele de virar a mesa pra situação que ele foi colocado. Era a oportunidade que ele finalmente decidiu encarar de frente para ganhar, e isso é tirado dele quando a bomba explodiu.


A presença de chumbo ali é mais uma adição, que justifica essa ação de não ter como impedir a explosão, mas tira exatamente a força de o que pra mim a cena era originalmente, o "shock value" que a torna mais pesada na versão do cinema, mas suavizada nesta nova versão. Ver Superman num cemitério em chamas que virou o Senado, completamente "castrado" de sua posição como salvador, já demonstra ali que a confiança em relação a ele e dele consigo estava, antes bem abalada, acabou por ser completamente destruída. Mesmo a cena seguinte, com ele ajudando os bombeiros e médicos a retirar os sobreviventes do Capitólio, continue a mostrar esse mesmo fator, perde o impacto emocional que a cena anterior trazia por si só.

Outro grande exemplo disso é o fato dos criminosos com a Marca do Morcego serem mortos de propósito a mando de Lex Luthor. Isso suaviza a brutalidade do herói, e especialmente tirar o fato bastante importante de o herói ser reflexo da cidade. O ponto de Lex Luthor interferir em tudo e planejar a longo prazo é uma coisa que nos vemos bastante acontecer nos quadrinhos, mas tira a questão da escalada que é própria do Batman do Frank Miller e diminui exatamente o ponto sociológico forte da situação, de que as coisas em Gotham ficarem tão violentas que os próprios bandidos acabam dando suporte pro Batman ser mais violento.


Tirar a culpabilidade das mortes pela Marca do Morcego é, novamente, não só diminuir a construção do personagem, mas fazer isso ao favor de expor um plot point. Mas em contraponto a isso, o R-rated permitiu muito mais sangue nas cenas, especialmente no atendado na Africa e na cena de ação do Batman do armazém, o que torna a melhor sequencia de luta feita com o personagem em live action ainda mais gloriosa. Por mais que vai com certeza chocar a muitos, ver o Batman literalmente explodindo a cabeça de um cara com um caixote foi muito legal de ver, e só comprova que para muitos (inclusive aquele que vos escreve) Zack Snyder trouxe o Batman que os fãs sempre sonharam em ver na tela.

Uma ótima cena do Ultimate Edition que deveria ter entrado no Theatrical Cut é de Clark Kent visitando a Delegacia de Policia em Gotham, após a ultima "vitima" da Marca do Batman ser assassinada. Volto a repetir que tempo de tela não serve para julgar nível de importância, porque você pode ter um personagem hiper exposto desde o começo ou ter um personagem que aparece em só uma cena e muda o curso de tudo. Digo isso pois há reclamações do Superman não ter aparecido tanto e não ter agindo tanto em tela como repórter, mesmo de forma implícita deixando bem claro que ele fez uma investigação sobre o personagem. Mas gosto bastante dessa cena pois mostra exatamente aquilo que eu falei antes, de a própria estrutura da cidade alimentar o comportamento do Batman, enquanto é constantemente jogado na cara que ele não vai resolver a situação do Batman com palavras, mas sim com o punho. É um momento muito legal que ia acrescentar de forma positiva o Theatrical Cut, mesmo que essa mesma ideia tenha sido mostrada no filme todo o tempo.


Um outro exemplo de adição legal é o fato de mostrarem a policia de Gotham socorrendo Martha Kent, e a clara alegria da parte dela de ser salva pelo Batman, emoção bem diferente da primeira vez que vemos o Batman salvar alguém no filme, com as jovens estrangeiras sequestradas completamente em pânico. A sequência dos enterros de Clark Kent também melhoram bastante, trazendo mais personagens ao seu funeral e cada um deles lidando de maneiras diferentes a despedido do amigo e/ou herói. A presença do Padre Leone (Coburn Goss) não só amarra com um dos acontecimentos de 'Man of Steel', mas também prepara o terreno não só do twist do fim do filme mas também para aquilo que deve acontecer em 'Justice League'.


Ainda dentro das partes positivas, vale citar o crescente papel de Anatoli Kniazev/KGBeast, personagem do qual os fãs do Batman tem profundo carinho, sendo muito bom em ser o cara mal e tendo mais coisa a fazer no filme. A surpresa fica com o tão comentado papel de Jena Malone no filme, fazendo Janet Klyburn, personagem do canon da DC Comics, mas até então sem conexões com o STAR Labs que nem os quadrinhos. A cena entre o Batman e lex Luthor no fim do filme fica ainda mais sensacional ao ver a reação de Lex ao saber que ele vai pro Asilo Arkham, e foi um bom toque do personagem forçar o encontro de Bruce e Clark no evento beneficente em sua casa. A cena que introduz o vilão oficial de 'Justice League', Steppenwolf, não fica tão dispersa dentro do filme como eu imaginava.


Ver mais de Lois Lane do Clark Kent em ação também foi bom, mas como dito aqui antes, neste caso ampliam mais coisas do que as acrescentam de fato. Algo conectado a isso que me desagradou, mas que também não muda muita coisa dentro do filme, é o fato de Karina Zihi (Wunmi Mosaku), a testemunha do atentado na Africa, ser na verdade uma atriz contratada pelo Lex Luthor, que novamente, retira muito da força da primeira cena do Capitólio e, novamente, suaviza a motivação de haver um antagonismo em relação ao Superman a principio, retirando um pouco da posição de real vilão do filme, que é a reação das pessoas em relação ao Superman. Clark Kent ir a trás dela, a principio, não dá em nada, mas mostra uma introdução do Batman ao personagem de maneira muito mais legal do que a mostrada no Theatrical Cut.


No geral, não há mudanças absurdas no filme, apesar que muito do filme é acrescentado e expandido. Há coisas que de fato melhoraram, coisas que antes eram implícitas e se tornam explicitas e coisas que perderam a sua força em relação ao Theatrical Cut por ser diminuído a sua crueza. O filme toma uma abordagem mais tradicional em sua narrativa, o que deve agradar a muitos que não entenderam o esquema dominó que foi feito o corte original (de as informações apresentadas construírem um crescendo narrativo) ou tiveram preguiça de interpretar tal coisas, em parte por filme do tipo não pedirem necessariamente isso, me parte por falta do hábito mesmo.

Como já falei aqui antes, 'Batman v Superman' nunca foi um filme ruim, muito pelo contrário, mas por muitos mal compreendido em sua grandeza. Acho que o Theatrical Cut te faz pensar mais como filme, porém entendo que o Ultimate Cut deixa tudo de mais fácil absorção e tende com isso as pessoas enxergarem o que sempre esteve presente ali. E se isso fazer as pessoas gostarem do filme, então no fim todos ganham, independente da versão, porque comprova mais do que nunca que 'Batman v Superman' não é somente a adaptação de quadrinhos, mas o blockbuster a ser dificilmente batido em 2016.

NOTA: 9.0 

Você pode ler meu review da versão de cinema aqui, e meu editorial focado sobre o Superman no filme aqui (o mesmo sobre o Batman irá sair em, breve). Até a próxima.