segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Review - Thor: The Dark World


Thor é um dos meus personagens favoritos da Marvel, de verdade. Mas eu não vou com a cara de seu primeiro filme, que apesar de trazer ótimos atores para os papéis, não dava credibilidade suficiente para a história. Em 'Os Vingadores', o personagem (e seu meio-irmão Loki) tiveram papéis de destaque e desenvolvimento melhor do que sua ultima aparição, então as expectativas dos fãs eram grandes quando anunciaram Alan Taylor (diretor de, entre outras coisas, Game of Thrones) para ser o diretor de 'The Dark World', esperando uma exploração mais profunda e intensa de seus personagens principais e de sua galeria fantástica de coadjuvantes. Mas creio dizer que, por diversos motivos, não foi dessa vez que isso aconteceu. Contém spoilers!

Pra começar, vamos a história: Bor (Tony Curan), antigo rei de Asgard e pai de Odin (Anthony Hopkins), a eras atrás enfrentou os Elfos Negros, comandados por Malekith (Christopher Ecclerson, o eterno -e fantástico- Nono Doutor) que possuíam o Eter, uma arma de destruição mortal para os Nove Reinos. Após (aparentemente) exterminar os Elfos Negros, Bor, escondeu o Eter nas profundezas de Svartalfheim (terra dos Elfos Negros) para ninguem ache. Nos dias de hoje, no periodo de Convergência (onde os Nove Reinos se alinham e os portais entre eles ficam abertos), Jane Foster (Natalie Portman) acaba sendo atraída e possuída pelo Eter, obrigando a Thor (Chris Hemsworth), que passou o ultimo ano deixando os Noves Reinos em paz novamente, a levar sua amada a Asgard para tentar ser salva. Mas após o ataque dos Elfos Negros restantes a cidade em busca do Eter, e a morte de Frigga (Rene Russo), o deus do trovão é obrigado a pedir ajuda ao aprisionado Loki (Tom Hiddleston) para vingar sua mãe e impedir que o Amaldiçoado destrua Yggdrasil.


Pra começar, entrando já na parte de "fã chato", eu ainda não sou muito fã da estética "mitologia viking sci-fi" (bastante ampliada na sequência), apesar de aceitá-la dentro dos contexto dos filmes (e que gerou  aqui uma das melhores sequencias de ação da Marvel Studios). Quem está de parabéns também neste filme é Bryan Taylor, compositor das musicas do filme, trazendo as emoções bem pontuais em suas musicas. Das cenas pós créditos, Benicio del Toro se trancou num quarto e encheu elas de TVs passando animes 24 horas por dia, trazendo uma das mais surreais interpretações do ator, afinal ele está um personagem de Anime ambulante. Pelo menos agora eu tenho UM motivo pra ver Guardiões da Galaxia (ZZZZ). A segunda cena pós créditos poderia ter sido muito bem o final do filme normal.


A entrada de Alan Taylor no filme melhorou em alguns aspectos, como por exemplo a ação, muito mais fluida do que antes, e as cenas de intensidade mais dramática e ou /conspiratória, mas não espere uma densa exploração das partes neste filme. Alan Taylor acabou fazendo novamente um filme do Thor que passa por você e não te adiciona nada, apesar de ter corrigido vários elementos do primeiro filme. Porém mesmo assim, certas escolhas neste filme e a tentativa de corrigir alguns dos problemas do primeiro não trouxeram o impacto esperado no publico, além do final anti-climático.


Por exemplo, Frigga teve uma participação maior na primeira metade do filme procurando explorar a relação dela com o Loki, mas até então é só isso. No primeiro filme, ela foi praticamente alguem que estava como figurante, não tendo uma cena de destaque com seus filhos procurando mostrar a relação entre eles perante os olhos de sua mãe (em 'Thor' tinha uma ótima cena entre Frigga e Odin que achei um crime ter sido deletada), e neste caso procurando ver a consequência dos atos de ambos seus filhos nos filmes anteriores. A morte dela acaba tendo impacto maior no fluxo da narrativa do que na reação do publico perante a surpresa em ela estar morta.


Outro elemento que acho que não funciona muito bem neste filme é Jane Foster, e sua relação com Thor, outra coisa que era dependente da boa estabilização no primeiro filme (que não teve). Se ela como cientista neste filme funciona excepcionalmente bem, ela ao lado do Thor não flui química e certas atitudes suas chegam ao insuportáveis (as cenas dos tapas foram uma gag que não funcionou), tudo porque eles literalmente se apaixonaram de um dia pro outro no filme anterior. Você não se importa por ela estar em perigo porque ela fó feita e escrita como uma mocinha apática, que nem por ser interpretada por Natalie Portman consegue salvar. E exatamente por esse relacionamento ser algo que não funciona que tornou o final do Thor (o personagem) tão retrogrado e anti-climático.


Se algo foi mostrado em 'Thor: O Mundo Sombrio' que ser rei tem um preço. Tanto Odin e Malekith são pessoas que tem noção de sua posição, e sabem que há riscos e sacrifícios as vezes tem que ser feitos para uma situação maior do que eles. Ultrapassar suas fronteiras e te atacar significa guerra, e Thor, como um pretendente a Rei, agiu de maneira certa (porém arriscada) em tentar acabar com o provável conflito sem que o sangue asgardiano corra. Ao fim do conflito, ele está pronto, ele viu os erros que o pai cometeu e provou que pode fazer diferente e ser um Rei melhor... só que ele decide abdicar do trono e viver com Jane Foster na Terra, enterrando toda a construção do personagem ao longo da história e deixando um final completamente anti-climático pro personagem. Ele ainda não enxerga o grande escopo das coisas, ela ainda é egoísta e infantil em não fazer a escolha que de fato ele nasceu para ser. Em resumo: foi deixada a sensação de que o personagem foi pra trás, não pra frente, e a "necessidade" dele ir para a Terra novamente castra as possibilidades do personagem.


Mas dessa vez quem se saiu melhor com a entrada do Alan Taylor foi Loki, já que suas características principais se assemelham muito ao estilo utilizado em 'Game of Thrones', e foi um dos personagens principais que realmente teve avanço ao longo do filme. Como Odin disse "aonde for que você estará, haverá caos, destruição e morte" e por isso mesmo ele não poderia ser Rei. E com a morte de sua mãe de criação, não tem somente a dor e raiva da culpa de ter ajudado indiretamente os assassinos dela, há a oportunidade para ele e Thor agirem como irmãos depois de muito tempo. Porém é seu final que intriga e confirma uma verdade: Loki é doente, e seu desejo de se tornar rei é maior do que tudo. O que aconteceu a Odin? E qual será o futuro de Asgard nas mãos do trapaceiro? Por coisas como essas que certas pessoas querem um filme solo dele...


Mas triste mesmo foi a má utilização de Eccleston e os Elfos Negros em geral, perdendo a oportunidade de explorar de maneira melhor a figura da raça, de certa maneira donos do Yggdrasil antes do surgimento dos nove reinos, e reduzindo a eles a inimigos genéricos de Asgard. Kurse (Adewale Akinnuoye-Agbaje) acaba sendo um vilão mais impactante no dois primeiros atos do filme (em parte por sua brutalidade e visual bem forte) enquanto Malekith só ganha destaque no ultimo ato. Apesar da sua relação com o irmão ser bem mais funcional do que Thor e Loki, a alegoria aí também se perde for faltar explorar exatamente os polos iguais e opostos entre as duplas. Além disso, não fica muito evidente se o Eter é uma arma consciente que só quer a destruição, a seculos a procura de um hospedeiro, ou se ela não é pensante e só pode se utilizada pelos Elfos Negros como arma.


Entre os outros coadjuvantes, Sif teve uma participação um pouco mais presente, apesar de ainda sim ela não ser usada como deveria, além de ter desmantelado os Três Guerreiros, deixando Hogun (Tadanobu Asano) para escanteio. Se Ray Stevenson continua o bom trabalho como Vollstag,  a surpresa pra mim ficou com Zachary Levi como Fandral, que surpreendentemente se encaixou como uma luva no papel. Já Heindall (Idris Elba) teve mais participação de todos até aqui comentados, tendo mostrado o quão foda pode ser o personagem, apesar da descontinuidade de terem deixado mais normal e tirado a aura de Entidade da qual ele possuía no primeiro filme. Dos coadjuvantes de Midgard, Kat Dennings continua sendo perfeita do jeito que sempre foi (e seu romance com Ian, o estagiário da estagiária, é muito melhor do que o do casal principal) e Dr Erick Selvig (Stellan Skarsgård) acabou tendo um papel cômico sensacionalmente escrito e representado no filme. O triste mesmo foi ver Tyr (Clive Russel), Deus da Guerra, Chefe da Guarda Asgardiana e irmão do Thor nas HQs, sendo deixado praticamente como figurante no filme todo...


Para finalizar, 'Thor: The Dark World' é um filme que infelizmente fica preso ao que vai ser Vingadores, tratou os problemas do primeiro filme como se não existissem, continuando a história de certos personagens como se tivesse sido bem estabelecido no primeiro filme (coisa que não foi), porém corrigiu problemas suficientes para se sustentar e se sair superior ao primeiro filme, mas mesmo assim igualmente esquecível. Triste que logo quando pensávamos que a Marvel tinha aprendido a lição com 'Iron Man 3', eles mandem algo do tipo.

NOTA: 6.0