segunda-feira, 2 de maio de 2016

Review - Captain America: Civil War


O mundo ficou parcialmente empolgado (mas não exatamente surpreso) com o anuncio que a Marvel Studios iria iniciar a sua Fase 3 adaptando a sua mais famosa obra recente: Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven. A preocupação morava em tornar utilizar o filme do Capitão América para isso (indo contra o que a revista de fato é) e essa mesma preocupação aumentou quando ficou evidente a certo ponto que não seria uma adaptação tão fiel quanto esperava, mas como isso iria afetar o resultado final, depois de uma Fase 2 tão problemática? A resposta para isso mora, estranhamente, em 'X-men: The Last Stand', que mostrou novamente uma terceira parte repetindo o mesmo erro. CONTÉM SPOILERS!!!

Vamos a sinopse: o filme começa com os Vingadores, liderados pelo Capitão América (Chris Evans), numa missão na Africa, tentando recuperar uma arma biológica do criminoso Brock Rumlow (Frank Grillo), agora conhecido como Crossbones. A falha da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) em tentar conter a explosão causada pelo vilão é o prego final na lei criada pela UN para sancionar as ações dos Vingadores. Enquanto Tony Stark (Robert Downey Jr) tenta convencer a equipe que isso é uma coisa boa, Steve Rogers olha isso com desaprovação, Uma explosão em Viena causada supostamente pelo Soldado Invernal (Sebastian Stan) põe T'challa (Chadwick Boseman), o novo rei de Wakanda e também conhecido como o herói Pantera Negra, numa caçada pessoal a Bucky Barnes, enquanto a tentativa de Rogers proteger seu melhor amigo faz Os Vingadores se racharem ao meio e por Tony Stark a uma caçada ao Capitão América, sem saber que o misterioso Coronel Zemo (Daniel Brühl) manipula as cordas de todos esses eventos sem ser notado... Ainda.


Os irmãos Russo ainda se demonstram bem talentosos em fazer sequencias de ação, mas acabaram por fazer o mais fraco dos 3 filmes do Capitão América. Mas não se engane: pelo fato de sim, ser o filme mais fraco do três, e de sim, ter problemas bem sérios em comparação ao trabalho anterior dos irmãos. Ainda sim se demonstra uma divertida porta de entrada pra Fase 3, mesmo que no fim das contas, o fator diversão seja mais forte que o fator inspiração. Assim como os outros filmes do personagem, auto-sabota as suas possibilidades, mas não se estraga. Tem ótimas cenas, quando são vistas apenas por isso, pois elas em conjunto demonstra que a liga que deveria as unir não é forte quanto deveria. Acaba que o produto oferecido é mais uma colagens de boas cenas do que um filme de fato.


Mas acho que o grande problema para muitos é a grande verdade que o filme não foi uma adaptação de Civil War. Utilizaram o mote principal da revista para contar uma outra história tão interessante quanto, mas no das contas não entrega o que prometeu, afinal, os heróis estão se batendo! E todos batendo palmas como se isso fosse o ponto real da série. Aí cai naquilo que eu disse no começo desse texto, de ter o mesmo problema de 'The Last Stand': o plot da origem do Soldado Invernal, e de como há outros como ele, assim como a trama do Tratado de Sokovia, que acaba por justificar bem a trama do Zemo, são duas histórias boas que esmagadas juntas, enfraquece os dois lados, e te faz esquecer do que aquilo deveria se tratar de fato sobre a Guerra Civil, que nem chegou a ser guerra de fato, porque não impacta em nada a não ser os personagens.


Vemos a versão do filme de Zemo ser um vilão bem acima da média dos filmes da Marvel Studios, mas que diminui um vilão clássico a uma adaptação que inexiste nesse caso. Você põe o General Ross de volta com um papel que, se eles se preocupassem em de fato adaptar Civil War, poderia ter gerado um vilão fenomenal e uma evolução de fato do personagem, não um garoto de recados do governo. Você tem a possibilidade de apresentar uma cena fenomenal de ação com, basicamente, um exército de Soldados Invernais, e pior, construindo todo um cenário que indicava que isso iria acontecer, para que no final... fossem mortos com um tiro na cabeça enquanto dormia, deixando bem claro que esse era o plot com que os Russos queriam trabalhar desde o começo, sendo forçado a se encaixar, e posteriormente ser jogado fora, para a cena de luta entre o Homem de Ferro e o Capitão América acontecesse.


Mas a grande questão é: se a ideia era os dois brigarem, valia a pena queimar o cartucho de uma história tão boa, e clássica? Não estou julgando mal a cena, porque o lance de revelar ali que Bucky matou os pais do Tony foi uma boa sacada, mas não seria melhor utilizar essa ideia como mote principal do filme e, de fato, ter um conflito com certa profundidade a ser trabalhada? Da amizade dos dois ter sido abalada com uma mentira que no final os tornasse inimigos de fato? Mas as pessoas querem piadas, heróis brigando e a sensação bi-dimensional dos heróis derrotando os vilões e tudo ficar bem no final.


Mas é exatamente vendo as cenas como algo fechado que você consegue ao menos se divertir no processo. Pantera Negra e Homem Aranha estão sensacionais, assim como a interação deles com os outros Vingadores. Ver o Homem Aranha tentando derrubar o Scott Lang como Giant Man foi fantástico, mas a presença dele ali na cena do aeroporto é forçar demais a barra da descrença. A luta em si no aeroporto é o maior, e mais divertido fanservice desse últimos anos em filmes do gênero. Ver Steve finalmente pegar uma garota depois de 3 filmes solo e 2 filmes de equipe, assim como a amizade do Falcão e Bucky se fortalecendo também são momentos bacanas.


Ver o Hawkeye (que eu já falei antes, é O MELHOR AVENGER) basicamente sendo a versão do Matt Fraction é de deixar qualquer um com um sorriso do rosto. A presença fantástica de Wakanda na cena pós créditos (gravada no Brasil -!!!-) e das interações de Peter Parker com a nova Tia May (Marisa Tomei) provam que no fim das contas 'Homecoming' pode não ser tão inútil quanto muitos acusam. Foi legal ber o Crossbones finalmente brilhar, mesmo que o sacrifico de Frank Grillo (que ainda vai ser um grande astro de ação, podem escrever) não tenha valido a pena. E os Russos ainda mantem a qualidade de dirigir ótimas cenas de ação, mesmo que a trilha e a fotografia deixem a desejar bastante, sendo opacas e repetitivas ao ponto de pensar que você ouviu a mesma musica em looping e uma cores opacas que chega a doer os olhos.


O filme acaba com os Vingadores do lado do Capitão América como foragidos da justiça, enquanto Tony Stark acaba com quem restou do resto dos membros do seu "lado" da equipe. Porém, por outro lado, não faz que é um dos grandes charmes para mim em 'Iron Man 3': mesmo sabendo que eles vão voltar, tem uma sensação que você pode ver os três filmes solo como de fato uma trilogia fechada. Se por um lado dá razões para que Tony Stark continue com os Vingadores (porque de fato é tudo que lhe resta, tanto como amigos e família) e de fato ainda o torne relevante ao longo da Fase 3, Steve não tem o mesmo senso de encerramento, apenas empurrando ele para a próxima guerra, mas sem mais ressentimentos com Tony. O motivo para isso acaba no fato que o filme não se trata sobre os Vingadores, ou mesmo sobre o Capitão América. O verdadeiro protagonista de Guerra Civil é de fato o Soldado Invernal, e o filme acaba, inevitavelmente, orbitando ao seu redor, e servindo especialmente a sua história.


Porém, o aspecto mais positivo do filme, para mim, é o fato de finalmente a Marvel Studios ter concertado um de seus maiores erros: as ações finalmente tem consequências e elas serem as engrenagens que movem a história daquele universo para frente, fazendo quase valer a pena "Age" of "Ultron" ter existido. Os eventos desse filme justificam as ações do Zemo durante a história e realmente dá base para o vilão e o faz acreditar nas suas motivações, além de, a principio, fazer o mundo começar a questionar as ações dos Vingadores e qual o preço deles salvarem o mesmo, mostrando que nem tudo é piadas e shawarma depois que a equipe conclui suas missões, e suas ações não afetam só a equipe, mas uma sociedade inteira. Mas como os heróis podem salvar o mundo sem nenhum dano colateral real (e não aquele absurdo e involuntariamente hilário contador de danos apresentado por Ross)? A resposta definitivamente não mora nesse filme, mas pelo fato dela ter sido levantada já é um bom começo.


Porém, a justificativa dos Tratados de Sokovia é fraca e só confirma ainda mais que a Marvel lida com o MCU dentro do formato de série de TV, dobrando a vontade dos eventos para poder contar a história que queiram contar naquele momento, pois afinal é estranho essa intervenção governamental não ter acontecido depois de 2 invasões alienígenas em menos de 2 anos (Nova York e Londres), uma das armas mais poderosas do mundo ser manipulada para sequestrar o presidente americano e a principal linha de defesa das nações do mundo não só estar infiltrada a décadas pelo inimigo mas ser destruída de fato, além deles desconsiderarem que a SHIELD ainda está na ativa (porque afinal, tudo não está conectado no fim das contas... Como por exemplo a total desconsideração com Agents of SHIELD e o fato de Alfre Woodard, a vilã Mariah Dillard da futura série do Luke Cage, estar fazendo um papel totalmente diferente no filme.


No fim das contas, 'Civil War' não é o filme que vai fazer você desistir de vez de acompanhar os longa metragens da Marvel Studios, mas está próximo disso, e te mantém ainda alerta sobre o futuro e o simples fato de quem procura um filme que se leve a serio como tal feito por eles está começando a realmente enjoar do processo, e vai inevitavelmente perder a vontade de acompanhar os diversos filmes deles que irão vir. Netflix, as séries de TV e os filmes da Fox sejam locais onde realmente possa valer a pena os fãs da Marvel investirem seu tempo. Até lá, o pão e o circo continua a ser servido as massas, com os cumprimentos da 'House of the (M)ouse'.

NOTA:6.5