sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Review: Deadpool (2016)


Eu não gosto do Deadpool. Sim, parece estranho começar a resenha sobre o filme personagem assim, mas é verdade. Não acho graça, não tem algo que me faça me importar com ele, a não ser do fato que, no início, era uma cópia do Deathstroke que não deu certo e acabou se encontrando em se assumir como piada exagerada e violência gratuita, que definitivamente é o que mantém sua fanbase até hoje. Até preferia o Barakapool, porque ele ia mais direto ao assunto sobre a parte que eu considero boa do personagem (a ação). Mas aí o filme dele aconteceu. E, para minha absoluta surpresa, o filme dele foi muito, mas MUITO melhor do que eu esperava.

Antes se seguirmos, vamos a sinopse: Ex-militar e mercenário, Wade Wilson (Ryan Reynolds) vai vivendo fazendo pequenos serviços afim de fazer o bem para alguém, seja qual preço for. Ao conhecer a prostituta Vanessa (Morenna Baccarin), acaba se apaixonando e chegando até o ponto de noivar com ela. Mas como nada na vida são flores, Wade é diagnosticado com câncer em estado terminal, e desesperado para ficar com o amor de sua vida, encontra uma possibilidade de cura em uma sinistra experiência científica comandada por Francis aka Axis (Ed Skrein), que força mutações nas pessoas para vendê-las como armas vivas. Garantindo a um preço caro um poder de cura que o deixa praticamente imortal, agora Wade (na identidade de Deadpool) caça o homem que destruiu sua vida afim de reverter o estrago feito.


O filme do Deadpool se garante com uma história simples até demais em comparação aos acontecimentos mais complexos dos filmes dos X-men, aproveitando as qualidades e particularidades do personagem e trabalhando elas sem cair no exagero corriqueiro do personagem, mas não as excluindo e as tornando especiais dentro da gama de filmes de quadrinhos que estão tendo por aí. Ele utiliza a variada trilha sonora, a violência,  a quebra da quarta parede, o sexo (com a nudez explicita), e piadas muito bem feitas para fazer o filme funcionar, além de uma estrutura nova de contar a mesma história de origem que estamos acostumados a ver. Pegando uma cena de ação e desdobrando a origem do personagem em flashbacks foi algo bastante inteligente, e refrescante, da parte deles. Mas nada disso não funcionaria se o filme não tivesse um coração que realmente amarrasse todos os elementos juntos, e é aí que mora a grande vitória do filme.


O marketing não mentiu: isso é de fato uma história de amor. Wade e Vanessa tem visões e opiniões de vida bem parecidos, e se amam de verdade, e Wade acaba preferindo deixar a noiva do que fazer ela sofrer com todo o processo complicado que é lidar com um câncer. E mesmo distante, ela não parou de tentar uma vida melhor (virou garçonete) e tenta seguir da melhor maneira possível, enquanto Deadpool todo tempo fica preso ao passado, e com não atingir a expectativa de não voltar a ser como era antes, ao invés de dar uma chance a segunda chance que ele teve na vida e se permitir ser feliz. E isso acaba sendo o grande mérito do filme: pra quem não gosta do personagem, ele cria um elo que torna o personagem dimensional, que faz que as piadas e violência sejam apenas consequências da boa história que eles acabaram contando.


Além disso, Deadpool é oficialmente o primeiro filme dentro do Universo-X de filmes que se iniciou com o reboot/homenagem em DOFP. temos um mundo onde as pessoas já estão acostumadas com mutantes (mas ainda sim com certo preconceito), e especialmente com a presença dos X-men, no formato de Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) e Colossus (Stefan Kapicic e Greg LaSalle), dessa vez visualmente igual aos quadrinhos, além de outras coisas interessantes, como a Mansão X, o Quinjet e um misterioso Hellacarrier que pode (ou não) aparecer em futuros filmes da Franquia X. Além disso, as meta-piadas relacionadas aos filmes do X-men, o papel deles de herói em comparação ao Deadpool, e em especial ao Wolverine/Hugh Jackman, são um dos aspectos positivos do filme que foram sabiamente usados.


Além disso, explicações que até então não tinham resposta, de porque do nome, da roupa vermelha, e até mesmo o senso de humor do personagem (que vira muitas vezes um sistema de defesa psicológico) ganham explicações práticas que ajudam o filme ao todo ter mais credibilidade. Além disso, o filme não sabe só rir de si mesmo e da franquia da qual está presente, mas também do próprio Ryan Reynolds, que está fenomenal no papel que tinha tudo pra eu odiar, e Morenna faz de Vanessa uma mulher que, apesar de ainda não ter seus poderes, é alguém que se faz igual ao Deadpool em termos de personalidade, e em aspectos explicados aqui, acaba sendo a verdadeira heroína do filme.


Personagens como Blind Al (Leslie Ugams) e Weasel (TJ Miller), além de ótimos alívios cômicos e amigos do Deadpool, ajudam na construção de cenário do personagem. Gina Carano como Angel Dust não faz muito, mas também mostra ao que veio nas cenas de ação (e tendo uma das piadas mais engraçadas do filme junto com Colossus). Axis funciona bem não só como contraponto sério e sisudo do Deadpool, mas também como a personificação de tudo que sua companhia representa, que pode ou não pode ser a Arma X, apesar de se assumir dentro do filme uma conexão militar no passado.


No fim, depois de 11 anos de luta pra fazer o filme sair do papel, a espera se pagou e acabou começando o ano com uma surpresa mais do que agradável. No geral o diretor estreante e técnico em efeitos especiais Tim Miller conseguiu fazer um ótimo filme de fãs para fãs, mas com todos os exageros do personagem devidamente domados para atrair novos "adeptos". Se antes os filmes dos X-men já estavam cimentados para alguns como a Marvel que vale nos cinemas, Deadpool chegou pra provar que isso não é mais teórico, e é tão real quanto o amor dos personagens principais. Se isso vai me fazer gostar do personagem nos quadrinhos eu ainda não estou certo, mas me faz esperar com ansiedade a já confirmada sequencia do filme com Cable. Só espero que dessa vez não leve mais 11 anos pra isso.


NOTA: 8.5

PS: Espero que todos se viciem em Juice Newton que nem eu estou agora por causa do filme.