quinta-feira, 14 de maio de 2015

Review: Arrow - Terceira Temporada


'Arrow' foi uma série revolucionária em muitos sentidos, não só por abrir mais espaço na TV para propriedades da DC Comics, mas também para o gênero ao todo. E após a estupenda segunda temporada, a pressão para que a qualidade continuasse alta era grande. E certas escolhas em relação ao que acontece na série deixou as pessoas em conflito, com pessoas falando que ela foi boa ou ruim. Mas agora, depois que finalmente acabou, qual veredito de fato podemos classificar a tão polêmica terceira temporada? Veja 10 pontos importantes e a resolução final sobre tudo abaixo. (Contém SPOILERS!)

PS: Antes de seguir queria dizer que este post testará um formato para reviews de séries de TV que podem (ou não) serem feitas no futuro (dependo dos fatores tempo/ paciência que eu tiver). Se deixarem seu feedback, eu agradeceria muito.


1- Novum Status Quo

A serie foi iniciada vendendo a ideia de que ela mudaria todas as estruturas da série, assim como também seria a parte final de uma trilogia formada pelas temporadas exibidas até então. A serie mostraria finalmente a caminhada final de Oliver Queen de vigilante a herói de fato, mas claro isso com alguns percalços pelo caminho. Só que a série decidiu ser introdutória demais em sua primeira metade da temporada, o que por melhores que tenham sido os episódios, ainda sim procurava reapresentar velhos e novos conceitos de maneira muito introdutória, que naquele ponto não havia mais a necessidade, sendo que poderiam ter continuado com o pique que estava durante a segunda temporada inteira. Isso certamente machucou o desenvolvimento do show, e poderia ter sido feito diferente ao todo. Mesmo que a mid-season finale e a "Trilogia da Canário Negro" tenham dado um boost necessário e bem vindo a série, o ritmo posteriormente foi diminuído até voltar a um crescendo com Oliver aceitando seu papel na Liga dos Assassinos.

2 - Questão de identidade

Outra coisa desta temporada é a busca pela identidade, mas que também poderia ser uma confirmação do que se realmente é. "Um homem não pode viver por dois nomes" diz Maseo logo no primeiro episódio, mas o que isso realmente significa para o longo da série? É exatamente a firmação do que se é, tanto que o ultimo episódio se chama, exatamente, 'My Name is Oliver Queen'. Não é a mascara que nos molda, mas sim a missão que escolhemos assumir. Salvar a cidade, e falhar com ela, ganha conotações diferentes tanto no passado (quando o caderno misterioso revela seu -parcial- objetivo) quanto no presente (quando o grande vilão da temporada facilmente destrói todos os alicerces construídos pelo personagem nas duas ultimas temporadas), mostrando que Oliver Queen ainda não está preparado para lidar com ameaças de natureza mais complexa, e qual seria o preço a se pagar para ser realmente o tipo de herói que a cidade necessita, ou se ele mesmo é o tipo de herói que ela merece.

3 - Ra's Al Ghul

Matt Nable, de 'Riddick 3', foi uma grata surpresa ao elenco, e por mais que eu goste do trabalho do Liam Neeson, ele acabou sendo a melhor adaptação do personagem em live action. A temporada poderia ter as falhas que teve, mas inegável que a atuação dele como o Cabeça do Demônio foi bastante fiel em suas raízes das HQs. Além disso, sua própria história está de certo modo conectada também a H.I.V.E (os vilões da próxima temporada), além de explorar todas as nuances da Liga dos Assassinos, seu lado brutal mas também seu lado poético. Até em sua relação com Nyssa, e Ra's Al Ghul ser uma "nomeação", tirados diretamente de 'Death and the Maidens', deixam a experiência de ver esse Ra's Al Ghul na tela mais completa.



4 - Não, Oliver Queen não é Bruce Wayne

E com a presença de Ra's Al Ghul, aumentou as piadas (ou para alguns, um problema sério) de "transformarem o Arqueiro Verde no Batman", numa acusação não só absurda mas idiota de dizer, já que os motivos de Oliver Queen antagonizar Ra's na série é completamente diferente dos motivos do Batman ser inimigo do mesmo nas HQs. Além do fato que suas atitudes confirmam que Oliver, como pessoa, é bastante falha: ele foi manipulado a temporada inteira, demonstrando que ainda não estava preparado para certas complexidades que, por exemplo, Flash em sua série já enfrenta logo de cara. Manipulado por Merlyn para que enfrente os seus próprios desafios, e tirar o alvo de suas próprias costas, e de Ra's em sua profecia messiânica sobre o papel de Oliver na Liga dos Assassinos. Mas ambos, coincidentemente, tem algo em comum: eles acreditam no potencial de Oliver pode ser maior (tanto para derrotar Ra's quanto para substituí-lo, respectivamente) mesmo que Oliver em si ache que chegou no seu ápice. Mas ao mesmo tempo, todas as experiências fortalecem a figura dele como herói, mesmo que como pessoa deixe suas ligações com amigos e família em pedaços, o que no fim das contas torna o equilíbrio entre homem e "mascara" falhos. E qual seria a solução? Se tornar outra pessoa, ou outra coisa...



5 - A ascensão de Laurel Lance

De todos os personagens da série, Laurel Lance é aquela que teve seu desenvolvimento mais subestimado pelo público. Começando com um não-tão-típica figura da mocinha em perigo, o season finale da primeira temporada colocou ela em uma posição que deixou a personagem com uma pegada mais noir, e consequentemente, no fundo do poço na segunda temporada. Drogada, alcoólatra, desempregada e com certa razão paranoica, ela acaba permitindo cada vez mais libertar a fúria que sempre esteve adormecida dela e ser mais pró-ativa não só no seu trabalho, mas também na sua relação com o Team Arrow. No começo desta temporada, a chocante morte de sua irmã Sara (que alias, é uma ótima personagem), pega toda essa raiva e frustração, junto com o desejo de fazer o bem, e põe pra fora na forma da Canário Negro, fazendo uma das mais esperadas coisas em relação a série acontecer e a espera valer muito apenas, pois Katie Cassady está gloriosa no papel da heroína e isso coroa a evolução da mesma ao longo da série. Vemos ela se tornar uma heroína que a cidade merece e que os outros heróis confiam totalmente, e essa evolução ainda não parou por aí.



6 - Que tipo de herói é você?

E isso nos leva ao próximo tema, dentro da questão de identidade: as atitudes das pessoas como heróis, como principal opositor a figura dos mesmos na cidade na forma do agora Capitão Lance, que julga o ato de todos, muitas vezes cego pelo seu próprio ódio. Esse comportamento é devido aos segredos que foram guardados pra ele em relação a morte de Sara, o que é um julgamento muito cínico da parte dele em minha opinião, apesar do fato de não lhe terem contado a verdade também pesa, apesar de todos terem feito até então na melhor das intenções (na medida do possível). Laurel tenta fazer justiça com as próprias mãos, só baseada em sua raiva e sua força de vontade, mas como bem foi dito várias vezes pelo produtor Marc Guggenheim, não é colocar uma máscara que fará você um super herói, além do fato que ela terá de decidir porque de fato ela está fazendo tudo isso: se é para sufocar sua dor interior ou honrar não só o que sua irmã foi, mas o que ela também pode ser.


Merlyn procura não só proteger a si mesmo mas também sua filha, do jeito sem sombra de dúvidas duvidoso e manipulador dele, mesmo que no fim haja segundas intenções (como sempre) em seus atos. Diggle agora é um pai de família, mas mesmo assim ainda é um soldado que precisa que um objetivo para se sentir vivo. Até mesmo o Pistoleiro finalmente se mata em busca de redenção, ao salvar membros da embaixada americana de um atentado terrorista. Mesmo não sendo reconhecido publicamente como tal, ele consegue convencer Diggle de que é uma pessoa boa, além de que caras maus podem se regenerar em alguém bons e nobres. E surpreendentemente, o arco de Roy Harper até então é fechado, mostrando o sacrifício que ele para salvar Oliver, se tornando de certo modo um herói aos olhos da equipe, mesmo que sacrifique a sua própria liberdade e aos olhos da justiça, ele seja (coincidentemente) um fora-da-lei.

7 - Expansão Agressiva

Se a chegada de 'The Flash' não bastasse para aumentar o 'DC-CWverse', Arrow ainda introduz o conceito óbvio para qualquer história de super-herói: se um se torna herói, outros vão seguir o exemplo. Aqui no caso temos não só a chegada da Ricardita e Canário Negro (FINALMENTE!), mas também do A.T.O.M., com uma ótima interpretação do ex-Superman Brandon Routh numa versão bem curiosa, mas não menos fiel, de Ray Palmer. A versão do show remete ao Atom da Era de Ouro com uns toques dos Novos 52 e upgrades estilo 'Homem de Ferro' para remeter (até então) a ideia de dele diminuir pelo menos coisas, já que Palmer é um dos maior especialista de nanotecnologia do mundo. Além disso, o crescimento da Canário Negro, Ricardita e Nyssa no show poderá até render futuros espaços as Aves de Rapina, e as introduções de mais heróis em 'The Flash' obviamente iria acabar gerando outro spin-off (Legends of Tomorrow), que pode gerar outros mais por aí. E falando em novos heróis...


8 - Massacre no Bairro Chinês

Os flashbacks em Hong Kong deram bastante destaque a Tatsu (a.k.a Katana) e Maseo Yamashiro, tendo este segundo maior destaque pela vantagem de ser um personagem com pouca história nas HQs, mas com bastante potencial numa adaptação, potencial este que foi atingido. Mesmo deixando Tatsu num papel secundário, mas importante e crescente ao longo da temporada, ainda sim explora o drama da família que forçada pela ARGUS a trabalhar como espiões, tentam escapar das amarras da agência, acabam sendo heróis num ataque terrorista planejado pelos exército americano e paga um preço caro por isso. Isso não somente fecha algumas pontas soltas das temporadas anteriores (Quem ordenou o ataque ao avião da Ferris Air? A família da Shado sabe da morte dela e de seu pai?) ainda sim mostra Oliver pela primeira vez tendo que usar seu instinto assassino a serviço do bem, e começar a moldar e a ideia do vigilante que vimos na primeira temporada. E no presente, vemos que o amor permanece mesmo quando os caminhos se separam, e na luta final da Katana contra Maseo temos técnica misturada com emoção, gerando um dos melhores e mais memoráveis momentos de toda a história da série.


9 - #Olicity Sucks!

Felicty Smoak nessa temporada sofreu de uma doença horrível e destruidora, conhecida a muito tempo chamada "Síndrome de Rose Tyler", que é quando showrunners decidem fazem a vontade do fandom e conseguem estragar uma ótima personagem, e por consequência, a dinâmica da mesma com os outros na série. Desta vez Felicity foi a afetada da vez, mas antes de mais nada quero dizer que uma das vantagens da série é que seus relacionamentos não acontecem "do nada", eles são orgânicos e tem uma evolução muito bacana, que enriquece a trajetória dos personagens. Mas esse não foi o caso da Felicity, pois ela junto com o Oliver fica insuportavelmente melosa, e ela sem o Oliver fica querendo agir como se fosse A Voz da Razão que representa o que ele acha e pensa quando o mesmo não se faz presente.


A personagem que conhecemos e aprendemos a amar, que era inteligente, fofa, hacker com um bom coração, morreu em 'Arrow' e só voltou aparecer em 'The Flash', e acabou substituída por alguém tão nojenta e insuportável que a primeira reação quando ela abre a boca é querer bater a cabeça dela na parede até ela desmaiar. Ao atender os pedidos do fandom (coisa que a CW é especialista, vide 'Supernatural') ela acabou trazendo situações que as pessoas preferem pra torcer que Ra's mate todos em Starling City só para Felicity morrer entre eles. Então por favor, já que na próximas temporadas Olicity continua, pelo menos volte a focar no storytelling, em fazer que isso seja agradável de ver aos olhos de todos, não só ao pessoal do tumblr. Ou faça melhor, junte ela com o Ray novamente, já que os dois tem uma química tão forte e combinam tão bem que poderia carregar um show inteiro nas costas, vide a partição do casal em 'The Flash'.

10 - Fins e Recomeços

E então chegamos as resoluções do season finale, que em sua maioria fecha realmente as histórias construídas nestas 3 temporadas, apesar de muitas delas acabam de maneira tão fantástica que, mesmo se a série acabasse, ia deixar um amargo gosto de quero mais. Malcolm Merlyn, numa sacada fantástica dos roteiristas sobre algo que estava lá o tempo todo e ninguém percebeu, se torna o novo Ra's Al Ghul. Nyssa continua como membro da Liga, ironicamente está livre de seu pai mas ainda sim tentando proteger o legado do mesmo do que o novo Cabeça do Demônio pode fazer, pois sua vida está entrelaçada a sua missão. Oliver, no passado vai a Coast City, cidade de um certo piloto da Ferris Air que Barry Allen disse que desapareceu no penúltimo episódio de 'The Flash'...


Aparentemente as Aves de Rapina (ou uma versão bem próxima das mesmas) são as novas protetoras, e melhor, heroínas de Starling City. Diggle aceita que agora pode ser um soldado que servi a si próprio, e como tal pode ser a rocha e herói de si mesmo. E no fim Oliver tem a liberdade de se reescrever e se tornar uma nova pessoa (com Felicity), mesmo que obviamente sabemos que ele vai voltar para se tornar, inevitavelmente, o Arqueiro Verde. A season finale acabou sendo bem politica em relação ao que mostrar, tentando agradar gregos e troianos, e mesmo ao custo da questão de escopo épico, se fez satisfatória no fim das contas, e construiu uma ótima antecipação para a quarta temporada e além.

Veredito:

A terceira temporada começou com expectativas altas em relação a segunda, e apesar que de fato foi a mais fraca das 3 até agora, de forma alguma foi uma temporada ruim. Muitas pontas soltas e histórias foram fechadas, e mesmo algumas delas dão motivos pra série continuar firme e forte. Sem medo de tentar novas ideias e mudar o status da série inteira, o desafio e as mudanças foram válidas, mesmo que o grande problema (além de Olicity) fosse a questão de ritmo. Além de seguir a aceleração que a segunda temporada estava tendo, decidiu se auto-reintroduzir (talvez a um novo publico que veio exatamente por causa da temporada anterior) a fim de levar a novos horizontes seja em seu próprio show, seja no universo compartilhado a estar sendo feito pela CW. Mesmo que seu passo tenha altos e baixos, ainda sim foi uma temporada no geral boa e solida em suas fundações, mas não sensacional como a anterior, e definitivamente não é o lixo que alguns comentaram.

NOTA: 7.5