sexta-feira, 24 de abril de 2015

Review - Avengers: Age of Ultron


Bem, 'The Avengers'. O que falar sobre ele depois de 3 anos? Eu estava hypado para o filme e isso obviamente influenciou no meu julgamento sobre o mesmo. Mas diferente do que a internet pensa, o tempo ajuda a você ter uma visão melhor sobre o filme, especialmente com o ceticismo que ronda os projetos devido a cada dia mais a sua "formula" estar evidente. O primeiro filme tem uma ótima dinâmica entre seus personagens, que segura o filme até o final, já que seu plot não é exatamente um dos mais refinados. Mas o filme funciona. Não é a perfeição, definitivamente, mas é apenas bom o suficiente. E assistindo a sua sequência, a realidade que me atingiu a tempos finalmente deve bater nas pessoas que não enxergar além do sucesso (merecido, do ponto de vista mercadológico) da Editora/ Produtora: que nem tudo que reluz é ouro. Contém SPOILERS!!!!

Antes de seguir com a resenha, vamos a sinopse: Atuando como a principal frente de proteção do mundo após a queda da SHIELD em 'The Winter Soldier', Os Vingadores descobrem uma base da Hydra na Europa onde estavam fazendo experiências com o Cetro de Loki (e a Gema do Infinito da Alma). A partir da AI presente na Gema, Tony Stark (Robert Dowey Jr) decide seguir em frente com plano audacioso: criar o Ultron (James Spader), uma AI revolucionária, que acoplada a Legião de Ferro criada por Stark, serviria pra proteger a terra no lugar dos Vingadores. Mas a natureza desta nova tecnologia se revela, criando uma ser cibernético maligno com trejeitos da personalidade de seu criador. Utilizando os gêmeos Maximorff, voluntariados da Hydra que acabaram tendo superpoderes, Ultron decide destruir os Vingadores e salvar a humanidade a seu próprio modo.


A intenção de Whedon era novamente utilizar o vilão como manipulador da equipe, que depois se torna mais forte a partir disso ter uma épica batalha final para salvar uma cidade. Soa familiar? Porque é. Apesar da pratica "sequencias que são iguais ao primeiro filme, só que maiores", não ser exatamente novidade em Hollywood, pra mim são raros os casos em que ela realmente funciona. E muito do que acontece e da trama do filme é basicamente o primeiro filme, só que maior e com mais coisas pra fazer. E isso exatamente é o que estraga o filme: de cair no mesmo território de 'Homem de Ferro 2', mas só que sem o "funil" que este filme teve para alinhar os finais de maneira mais rápida e conclusiva. A origem do Ultron não foi necessariamente desenvolvida de maneira que o desenvolvimento dele ajudasse a trabalhar a sua origem em camadas e fazer entendermos o personagem melhor; mostrou a criação dele e pulou já para ele botando em prática o seu plano. A trama e o timing de 'Age of Ultron' tentou ser maior em tudo, na ação, no desenvolvimento dos personagens, na introdução de inúmeros elementos, mas aqui era o caso que onde menos poderia ter sido mais.


Além disso, Ultron passa por uma descaracterização enorme no filme. Eu sou fã de adaptações, entendo a necessidade de mudança, mas esticar o núcleo do personagem e ver o que desenvolve daí e acrescenta ao todo é uma coisa, tirar o que faz o personagem ser o personagem da equação é completamente diferente.Apesar de elementos da HQ estarem lá,o que foi acrescido acabou tornando Ultron um clichê de si mesmo, um eco, que procura mais explorar a relação de desprendimento com Tony Stark e os Vingadores e de tentar se tornar melhor e mais forte do que eles como equipe, além de, em sua visão, conseguir "salvar" o mundo. As nuances dele em relação a criação da vida, da humanidade e toda a sua imperfeição e especialmente da brutalidade em que ele tenta se desligar da humanidade foram substituídas por uma dinâmica de uma arma perfeita que o Tony Stark não pode controlar e que possui uma série síndrome de Frankenstein.


E isso traz certos momentos e  'God Ex Machinas' ao filme que exatamente reforçam a experiência de tudo estar descontrolado, suprimido, que a história corre pra chegar em algum lugar relevante a Fase 3. Thor (Chris Hemsworth) vai num poço mágico que faz que finalmente um dos personagens saiba a existência de Thanos (Josh Brolin), enquanto há discussões entre Stark e Steve Rogers (Chris Evans) que não levam a lugar nenhum, mas que preparam porcamente o terreno para "Civil War", mesmo que o final do filme não leve nada indicando a isso. Outro God Ex Machina é aparição surpresa do Hellacarrier, num momento que, olha só, achava-se que não poderia salvar os cidadãos da cidade. Tudo propriamente mal colocado para exatamente haja essa velocidade na história. Mas um elemento positivo e totalmente coerente com o filme foi a introdução de Ulisses Klaue (Andy Serkis) e elementos do mundo do Pantera Negra na trama sem ficar empurrando pela goela ou sendo gritantemente óbvio.


O filme também sofre muito de ter momentos bons que funcionam maravilhosamente como uma cena a parte, mas que não necessariamente acrescentam quando visto junto ao todo. A cena da festa dos Vingadores é exemplo, assim como a cena que serviu de "esquenta" pro Civil War na casa dos Barton. Outra coisa é que a introdução de certos personagens e a velocidades que eles desaparecem e voltam quando necessário, tornando eles completamente irrelevantes no plano maior das coisas ou sendo utilizados quando convém ao plot, como o Barão Strucker (Thomas Kretschmann) e a Doutora Cho (Claudia Kim), respectivamente. Especialmente no caso de Strucker, pela importância que o vilão tem na história da Marvel, poderiam ter utilizado muito bem 'Agents of SHIELD' para introduzir o personagem e fazer uma ligação muito mais sólida (e melhor) com o que acontece nos filmes, pra não se tornar apenas mais uma ferramenta a favor do plot.


Em compensação um fator positivo do trabalho do Joss Whedon foi a exploração dos personagens "menores" da franquia. O relacionamento entre Bruce Banner (Mark Rufallo) e Natasha Romanov (Scarlett Johansson) funciona surpreendentemente bem na tela, não só nos momentos de química do casal mas também os momentos de conflito. E quem rouba a cena (e boa parte do filme) é ele, Clint Barton (Jeremy Renner), o Gavião Arqueiro, finalmente trazendo o badassary dos quadrinhos para as telas e mostrando o real valor e potencial do personagem. Além de não só explorar o personagem, mas também sua família e os motivos de não aparecer tanto nos outros filmes, o que acrescenta bastante profundidade ao personagem. Ele acaba sendo de fato o melhor Vingador, por conseguir equilibrar ambos os lados de sua vida profissional e pessoal, mesmo que ainda questione seu papel entre os outros na equipe. Robert Dowey Jr continuou fazendo o que ele sempre faz (o que não é necessariamente ruim), e fico triste como o Thor se tornou mais uma das ferramentas de plot para a equipe perceber a ameaça de Thanos na Fase 3...


Entre os novatos, estão os Gêmeos Maximoff, Wanda (Elisabeth Olsen) e Pietro (Aaron Taylor-Johnson). Aqui não sendo filhos de Magneto (por motivos contratuais) e sim sobreviventes da guerra civil em seu país alimentada pela artilharia da Stark Industries, acabam fazendo o papel de "Cetro de Loki" do Ultron neste filme, apesar de que, individualmente, a Feiticeira Escarlate está muito melhor trabalhada e interpretado do que seu insosso irmão, feito pelo Aaron Taylor Johnson, da qual morte não fara falta a ninguém e muito menos nos futuros filmes. O que já se suspeitava acabou se confirmando: o Quicksilver da Fox é MUITO melhor, apesar de que, caso mesmo esteja nos futuros filmes, a Wanda da Fox vai ter um páreo duro de ser superado, pois Elisabeth Olsen se fez destacar no filme. Apesar de ainda sim sua introdução no filme não ter sido a ideal (sofrendo do mesmo mal que atingiu o Gavião Arqueiro no filme anterior), um deles consegue se sobressair a tudo isso.


Mas o grande destaque entre os personagens novos vai mesmo ao Visão, ou JARVISion (Paul Bettany), se preferir. perfeitamente igual as HQs, seja no visual, seja em sua personalidade, a evolução de Jarvis para o Visão foi muito bem estruturada, como o resquício de um foi responsável a de fato dar alma a outro. A "Visão" aqui no caso do filme se torna sobre a evolução perfeita que o Ultron busca para si, fazendo o ciclo do que o Stark visava e tinha esperança para o próprio Ultron, sendo uma das poucas partes da estrutura do Ultron como personagem que funciona bem, fazendo a "utopia" do Ultron seja corrompida. Foi um belo ponto positivo entre a bagunça que o filme se tornou.


E isso nos faz entrar na cena da batalha final, onde Ultron ameaça destruir parte de uma cidade europeia e seus moradores, criando uma espécie de imã magnético que faz a pedaços de terra se levantar e depois cair violentamente. Claramente o jeito que a cena foi lidada (assim como a presença da Legião de ferro) é consequência do choque de realidade que foi tratado o ataque do General Zod a Metropolis em 'Man of Steel'. Apesar da tentativa nobre (há um certo, porém involuntário, humor a partir do ridículo quando a Legião tenta afastar as pessoas e elas apenas não se importando). Claro que seria cobrado deles uma ação sobre isso, e sobre as (inúteis) discussões que isso gera até hoje, mas é nessa hora que é mostrado a grande diferença entre a abordagem das editoras/estúdios.


Enquanto MOS explorou um ataque desta escala de uma maneira realista, onde  é bem claro que o vilão é responsável pelos atos cruéis, e que isso não tem como ser feito sem consequências e baixas que depois claramente vão se pagar na história maior que ele conta. Na Marvel, e em especial neste filme, o que vemos é todo mundo ser salvo (graças a um GRANDE 'God Ex Machina' providenciado pela SHIELD), feliz e contente, mesmo com a baixa do Mercúrio, que não fará nenhuma falta de fato. Apesar de isso destrinchar uma nova fase nos Vingadores, inspirada claramente pela SHIELD e bancada pelo Tony Stark, fica aquele incomodo na cabeça de que nada que aconteceu na história, exceto a criação do Ultron, foi o catalizador dessa mudança. Talvez uma falha nessa missão, de por exemplo, ter pessoas que realmente tivessem morrido mesmo tendo derrotado o Ultron, fosse não só por ser o catalizador dessa "militarização" da equipe, mas também do próprio filme do "Civil War". As coisas acontecem não necessariamente neste mundo, mas nos filmes, de maneira que parecem irrealísticas e/ou separadas a todo o resto.


O aumento da criminalidade causada pelo Ataque de Nova York nas partes mais pobres da cidade de 'Daredevil', por exemplo, mostra que as ações deles tem impactos gigantescos, mas porque prender isso ao projetos considerados "sérios"? Porque a ideia é de ser diversão escapista, mas enquanto mesmo mantendo um tom leve, poderia mostrar reais consequências as atitudes daquele mundo, coisa que em 'Winter Soldier' acontece de maneira bastante suavizada enquanto neste apenas acontece e você tem que aceitar que é assim que acaba e pronto. Isso só reforça um preconceito e um debate estupido entre fãs de quadrinhos sobre "filmes sérios x filmes leves" de HQs, que forçadamente não pode só infantilizar além da conta, mas chama seu espectador médio de burro. Há muita ação, mas não consequência, apenas uma mudança forçada de cenário sobre isso. E este é um problema que precisa parar.


Os filmes da Marvel Studios utilizam claramente uma estrutura de série de TV nos cinemas, o que na minha opinião, apesar de sucedida em fazer que as pessoas consumam este formato, ela cria sérios problemas narrativos e estruturais. Filmes dos Vingadores tem que ser a season finale da história a longo prazo que eles contam, e 'Age of Ultron' mostra o que acontece quando ele apenas se torna mais uma parte do todo, e não o centro que tudo deveria orbitar. Mostra uma coisa relevante no meio de um turbilhão de coisas esquecíveis, e assim como muitos filmes da Fase 2, completamente descartáveis.

NOTA: 5.0

PS: Eu sou o único que achei a forma final do Ultron idêntica a Robert Z'dar, astro da série de filmes 'Maniac Cop' e 'Tango e Cash'?